Nas tramas da sexualidade: um estudo sobre trajetórias afetivo-sexuais de homens jovens gays / In the plots of sexuality: a study on the affective-sexual trajectories of young gay men

RESUMO

Esta tese tem como objetivo compreender as trajetórias afetivo-sexuais de homens jovens gays cisgêneros, pertencentes a camadas populares, moradores da região metropolitana do Rio de Janeiro, Brasil. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, em que foram realizadas entrevistas individuais em profundidade com quinze jovens, com idades entre 19 e 24 anos, sendo utilizada análise temática como referencial analítico. As narrativas contemplaram o processo da trajetória afetivo-sexual destacando-se os seguintes pontos: a iniciação sexual, o aprendizado da sexualidade e da masculinidade, o processo de revelar-se gay para a família, experiências com "ficantes" e namorados, o uso (ou não) de preservativo nas relações sexuais, e situações de violências na infância, adolescência e na juventude. Os resultados mostraram que os jovens foram, desde muito pequenos, socializados por discursos tradicionais da masculinidade hegemônica. Apesar de relatarem que estão distantes do ideal de masculinidade, reproduzem tais discursos na busca por um parceiro "forte, viril e masculino". Os jovens narraram diversas violências como se perceber "diferente" dos amigos na escola, o não acolhimento da família ao se assumir gay na adolescência, violências físicas, psicológicas e simbólicas praticadas por parceiro íntimo (nomeado como namorado) e por "ficantes" (em relações sexuais esporádicas). A internet permeia suas trajetórias, para o aprendizado da sexualidade, para conhecer um parceiro afetivo-sexual ou para certo acolhimento após sofrerem violências físicas, sexuais, psicológicas e simbólicas. O olhar interseccional foi importante para a compreensão dos resultados. Tais violências são formadas por matrizes de opressões que articulam performances de gênero ­ ser afeminado; atributos corporais ­ ser negro e/ou gordo; pertencer a camada popular ­ ser morador de favela; o status sorológico de HIV positivo; ser deficiente, dentre outras. Os dados apontam para uma escassa rede de apoio que lhes permita enfrentar as violências e exclusões. Conclui-se que questões de gênero e masculinidade modulam suas trajetórias, produzindo hierarquias, violências, desamparos e o sentimento de solidão.

ABSTRACT

This dissertation aims to understand the affective-sexual trajectories of cisgender young gay men, belonging to lower classes, living in the metropolitan region of Rio de Janeiro, Brazil. This is qualitative research, in which in-depth individual interviews were conducted with fifteen young people, aged between 19 and 24 years, using thematic analysis as an analytical framework. The narratives contemplated the process of the affective-sexual trajectory, highlighting the following points: sexual initiation, the learning of sexuality and masculinity, the process of coming out for the family, experiences with "hook up" and boyfriends, condom use (or not) in sexual relations, and situations of violence in childhood, adolescence, and youth. The results showed that young people were socialized by traditional discourses of hegemonic masculinity from a very young age. Despite reporting that they are far from the ideal of masculinity, they reproduce such discourses searching for a "strong, virile, and masculine" partner. Young people narrated various types of violence, such as perceiving themselves as "different" from friends at school, not welcoming their families when they came out as gay in adolescence, physical, psychological and symbolic violence committed by an intimate partner (named as boyfriend) and by "hook up" (in sporadic sexual intercourse). The internet is present in their trajectories for learning sexuality, affective-sexual encounters, or certain social support after suffering physical, sexual, psychological, and symbolic violence. The intersectional look was important for understanding the results. Such violence is formed by matrices of oppression that articulate gender performances ­ being effeminate; bodily attributes ­ being black and/or fat; belonging to the lower-income class ­ being a slum dweller, HIV-positive serological status, being disabled, among others. The data point to a scarce support network that allows them to face violence and exclusion. It is concluded that issues of gender and masculinity modulate their trajectories, producing hierarchies, violence, helplessness, and the feeling of loneliness.