Os protocolos e a decisão médica: evidências ou vivências? / Protocols and the medical decision: evidence or experience of life

RESUMO

O objetivo geral do trabalho é compreender as concepções e interesses sobre como transmutar a fundamentação da prática cotidiana do conhecimento produzido pela experiência clínica para modelos probabilísticos da epidemiologia. O objeto de estudo é a argumentação e as práticas em torno da possibilidade de consenso sobre critérios de conhecimento, válidos para as decisões diagnósticas e terapêuticas. Partimos das proposições de Fleck nas quais os fatos não seriam objetivamente dados, mas coletivos e contingencialmente criados na sua adequação a um estilo de pensamento - internalização das normas, valores e habilidades que incluem uma certa maneira de ver o objeto. Utilizamos, como estratégias de pesquisa, a análise documental e a observação. A primeira utiliza duas fontes de dados os trabalhos de Berg sobre a racionalização da prática e introdução de ferramentas de suporte de decisão - protocolos - no período de 1945 a 1999, nos Estados Unidos e o Journal of the American Medical Association (JAMA) de 1999 a 2000. A pesquisa etnográfica corresponde à observação do round e das reuniões clínicas numa Unidade de Terapia Cardiointensiva Cirúrgica, no Rio de Janeiro. As referências de análise são Knorr-Cetina, no campo de interesses científicos e não-científicos (arena transepistêmica) e a teoria da argumentação de Perelman. A pesquisa revela a consolidação da tendência de incorporação de critérios explícitos de relação custo-benefício e interesses relativos a distintos agentes como categoria médica, governos e complexo médico-industrial na introdução dos protocolos. A observação demonstra utilização ambivalente protocolos/estudos científicos e experiência clínica. Chama a atenção um certo ceticismo e inabilidade dos médicos na utilização das ferramentas de análise do estilo de pensamento epidemiológico.