Aplicação dos modelos experimentais de camundongos transgênicos e ratos no estudo da interação leptospira-hospedeiro / Application of experimental models of transgenic mice and rats in the study of Leptospira-host interaction

RESUMO

A leptospirose é uma zoonose de importância global. Em nosso meio, a doença associa-se às condições de saneamento precário e pobreza. Sua patogenia permanece pouco compreendida sendo ainda necessário o desenvolvimento de modelos experimentais que esclareçam os mecanismos de disseminação e colonização da leptospira nos tecidos do hospedeiro, bem como a avaliação de determinantes da susceptibilidade e resistência do hospedeiro à doença. Diversos modelos experimentais já foram utilizados no estudo da leptospirose e, especificamente, dois deles foram pouco explorados, incluindo o modelo do rato (Rattus norvegicus), principal hospedeiro de leptospiras patogênicas e protótipo de resistência à doença aguda letal, e o modelo murino, que oferece a vantagem de amplas possibilidades para estudos genéticos e imunológicos. Foi estabelecido o modelo de colonização, avaliação das lesões associadas a este processo e tempo de persistência das leptospiras nos rins. O modelo de ratos foi utilizado para o estudo da cinética de disseminação de leptospiras do primeiro até o nono dia da infecção experimental. Além disso, foram realizados estudos comparativos das lesões renais observadas em ratos de laboratório com aquelãs presentes em ratos da mesma espécie capturados em Salvador, com e sem evidência microbiológica de infecção. Foi avaliado ainda o papel de citocinas através da infecção experimental de camundongos selvagens e com deficiências genéticas específicas. Os animais transgênicos usados foram da linhagem C57BL6, deficientes para os genes do receptor Rp55 do fator de necrose tumoral alfa (TNFRKO) ou do interferon gama (IFNKO), e BALB/c deficientes para o gene da interleucina 4. Os resultados comprovam a reprodutibilidade da infecção renal persistente e resistência de ratos à doença aguda letal. A disseminação é ampla nos tecidos até o quinto dia da infecção sendo seguida por persistência seletiva nos rins, semelhante ao que é descrito em outros modelos de animais susceptíveis à leptospirose. Uma neftite intersticial discreta é o único achado que pode ser atribuível à infecção por leptospiras, visto que é a única reprodutível experimentalmente. A deficiência específica dos genes estudados tem pouco efeito sobre o curso da infecção experimental em camundongos. A maior gravidade da nefrite intersticial nos animais C57BL6 TNFRKO sugere que esta é uma lesão residual provavelmente secundária ao menor controle da disseminação precoce de leptospiras na ausência desta via da imunidade inata. A linhagem C57BL6 apresenta alterações inflamatórias renais com maior freqüência do que a BALB/c. Isto indica que camundongos C57BL6 devem ser priorizados em estudos genéticos na leptospirose experimental por permitir um segundo desfecho a ser avaliado, além da sobrevida.