Impacto das funções executivas sobre a percepção de estresse na atividade das doenças inflamatórias intestinais / Impact of executive functions on stress perception in the activity of inflammatory bowel diseases

RESUMO

INTRODUÇÃO: As funções executivas (FE) constituem-se como importante mecanismo de controle cognitivo, responsável por direcionar e coordenar o comportamento de maneira adaptativa frente às novas exigências. Diante do diagnóstico da doença inflamatória intestinal (DII), ocorre sinalização excessiva de ameaças e sensibilidade à dor que afetam circuitos cerebrais relacionados às FE, o que culmina em maior vulnerabilidade ao estresse, e consequentemente à neuroinflamação. Diante de tais pressupostos, o posicionamento epistemológico deste estudo pauta-se na Psiconeuroimunologia. OBJETIVO: Investigar o impacto das FE sobre a percepção do estresse na atividade das doenças inflamatórias intestinais. METODOLOGIA: A pesquisa é de natureza quantitativa, de cunho descritivo e analítico, com corte transversal e correlacional. A amostra foi composta por 52 pacientes de um Ambulatório de Assistência Interdisciplinar às DII, integrado a uma universidade comunitária no sul do Brasil. Uma avaliação neuropsicológica realizada por meio de entrevista sociodemográfica e clínica, medidas de estresse, coping e FE possibilitou uma análise ecológica e sistêmica. O tratamento dos dados deu-se por meio da estatística descritiva e inferencial, correlacionando-se indicadores clínicos dos pacientes em fase remissiva e ativa da DII. RESULTADOS: A média de idade foi 43,6 anos, com predomínio de mulheres, cor branca, classe socioeconômica desfavorecida e atividade profissional autônoma. Evidenciou-se comprometimento leve nas FE, estabelecendo-se um perfil fenotípico com maiores prejuízos neurocognitivos na Doença de Crohn, em atividade, em uso de corticosteroides, com transtornos de humor e histórico de ideação suicida, maior idade e tempo de diagnóstico. Os prejuízos ocorreram tanto nos processos automáticos de velocidade de processamento, como nos processos controlados, atenção seletiva e alternada, memória de trabalho e flexibilidade cognitiva. A análise de regressão evidenciou que o comprometimento nas FE se constitui como preditor de estresse na DII, tendo como primeiro fator preditor o estresse financeiro; e o segundo, o estresse familiar. Na amostra total, o comprometimento nas FE explicou 18% da variância da percepção do impacto do estresse na saúde; já nos pacientes em atividade, explicou 24% da variância de estresse e 47% da variância do Coping Resolução de Problemas. Essa estratégia foi mais utilizada por pessoas com percepção de sucesso muito grande no alívio do estresse. Os níveis de estresse percebido foram moderados a elevados em mais de um quarto da amostra, sem diferenças significativas na emissão e atividade; e as estratégias de enfrentamento explicaram 62% da variância da percepção do impacto do suporte social recebido. CONCLUSÃO: Os resultados possibilitaram conhecer mecanismos associados às sobecargas inerentes ao processo adaptativo com a DII, sugerindo que os pacientes estão em risco elevado de disfunções executivas ao longo do tempo e suscetibilidade ao estresse. Por outro lado, o estresse interfere no desempenho das FE, retroalimentando esse circuito psiconeuroimunológico. Medidas interdisciplinares preventivas visando remissão duradoura, suporte social e aprendizagem de resolução de problemas poderão contribuir para a modulação dos estados cognitivos e emocionais. O estudo traz elementos relevantes para delineamento de alvos terapêuticos que guiem comportamentos autorregulatórios, prevenção da progressão de danos e incapacidades associadas aos comprometimentos como doenças neurodegenerativas, neuropsiquiátricas e risco de suicídio em pacientes com DII.

ABSTRACT

INTRODUCTION: Executive functions (EF) constitute an important mechanism of cognitive control, responsible for directing and coordinating behaviour in an adaptive manner, allowing for quick and flexible changes in response to new demands. In the context of inflammatory bowel disease (IBD) diagnosis, there is an excessive signalling of threats and sensitivity to pain that affect brain circuits involving the prefrontal cortex related to EF, resulting in increased vulnerability to stress and consequently to neuroinflammation. Based on these assumptions, the epistemological position of this study is grounded in Psychoneuroimmunology. OBJECTIVE: To investigate the impact of executive functions on stress perception in the activity of inflammatory bowel diseases. METHODOLOGY: This study is quantitative, descriptive, and analytical in nature, with a cross-sectional and correlational design. The sample consisted of 52 patients from an Interdisciplinary Outpatient Care Clinic for IBD, integrated into a community university in southern Brazil. A neuropsychological assessment, including sociodemographic and clinical interviews, stress measures, coping strategies, and executive functions, enabled an ecological and systemic analysis. Data analysis was conducted using descriptive and inferential statistics, correlating clinical indicators of patients in remission and active phases of IBD. RESULTS: The mean age was 43.6 years, with a predominance of women, white ethnicity, disadvantaged socioeconomic class and autonomous professional activity. Mild impairment in EF was evidenced, establishing a phenotypic profile with greater neurocognitive impairments in Crohn's Disease (CD), in activity, in use of corticosteroids, with mood disorders and history of suicidal ideation, older age and diagnosis time. Losses occurred both in automatic processes of processing speed and in controlled processes, selective and alternating attention, working memory and cognitive flexibility. The regression analysis showed that performance in EF is a predictor of stress in IBD, with financial stress as the first predictor; and the second, family stress. Performance in EF explained 18% of the variance in the perception of the impact of stress on health. In active patients, EF performance explained 24% of the stress variance and 47% of the Problem Solving variance. Moderate to high levels of perceived stress were evident in more than a quarter of the sample, with no significant differences in remission and activity. Coping strategies explained 62% of the variance in the perception of the impact of social support received. CONCLUSION: The results shed light on the mechanisms associated with the inherent burdens to the adaptive process with IBD, suggesting that patients are at high risk of executive dysfunction over time and susceptibility to stress. Conversely, stress also affects EF performance, thereby reinforcing this psychoneuroimmunological circuit. Preventive interdisciplinary measures aimed at last remission, social support and problem-solving learning may contribute to the modulation of cognitive and emotional states. The study provides relevant elements for the design of therapeutic targets that guide self-regulatory behaviors, prevention of the progression of damage and disabilities associated with impairments such as neurodegenerative and neuropsychiatric diseases and risk of suicide in patients with IBD.