Pseudo-icterícia e alcoolismo? Disparidade paradoxal entre a intensidade da icterícia e níveis de bilirrubina sérica / Pseudojaundice and alcoholism? Paradoxal disparity between the intensity of jaundice and serum bilirrubin levels

RESUMO

No exame clínico de 202 pacientes alcoolistas crônicos, internados em 1987 em hospital psiquiátrico para tratamento de alcoolismo, foi clinicamente detectado icterícia em 78 (38,6 por cento) deles. Após determinaçäo da taxa de bilirrubina plasmática constatou-se que apenas 9 - 4,5 por cento da totalidade dos pacientes e 11,5 por cento dos pacientes considerados clinicamente ictéricos - tinham bilirrubina superior a 1,2 mg por cento. Assim, 69 pacientes - 34,2 por cento do total de pacientes e 88,5 por cento dos considerados clinicamente ictéricos apresentavam na realidade pseudo-icterícia. Em 1993, para uma análise mais detalhada dessa pseudo-icterícia, examinamos, no mesmo hospital, 105 pacientes com características demográficas, epidemiológicas e sociais semelhantes aos do estudo anterior e observamos uma taxa muito próxima da anterior (31,4 por cento). Os pacientes com pseudo-icterícia tinham idade média, tempo médio de consumo de álcool e freqüências de ocorrências de hepatomegalia, aranhas vasculares e ascite significativamente maiores que os considerados clínica e bioquimicamente anictéricos. Os níveis séricos da aspartato-aminotransferase, glicemia, cálcio e magnésio estavam significativamente mais elevados nos pacientes com pseudo-icterícia. O contrário foi observado quanto aos níveis séricos da fosfatase alcalina, potássio e fósforo. Este estudo discute o significado desta manifestaçäo ainda näo relatada na bibliografia em alcoolistas crônicos