Da experiência subjetiva à prática política: a visão do usuário sobre si, sua condição, seus direitos / Of the subjective experience to the practical politics: the vision of the user on itself, its condition, its rights

RESUMO

No contexto do complexo processo da Reforma Psiquiátrica Brasileira, o Movimento dos Trabalhadores de Saúde Mental e o seu desdobramento no Movimento Nacional da Luta Antimanicional representam as condições de possibilidades para o surgimento de um movimento social dos usuários de serviços de saúde mental e da conjuntura histórica em que se realiza esta pesquisa. A emergência dos usuários como sujeitos políticos preocupados com as questões relativas à sua experiência, sua condição e seus direitos, traz a novidade do seu protagonismo no processo de transformações em curso. E demostra que a convivência na prática política com esse louco-cidadão impõe novos rumos ao debate e um outro olhar sobre o universo da loucura e da exclusão. O presente estudo tem como objetivo apresentar algumas reflexões em torno da temática do poder, da subjetividade, da militância e da política, a partir do movimento dos Usuários dos Serviços de Saúde Mental e do pensamento de Michel Foucault, especialmente em sua última fase. Para isso, realizamos uma pessoa pesquisa com usuários militares vinculados ao Movimento Nacional da Luta Antimanicomial, utilizando uma metodologia qualitativa que inclui entrevistas individuais não-estruturadas e a observação da sua atuação política em eventos considerados estratégicos. Apresentamos os resultados dessa pesquisa na forma de falas que se sucedem sobre os diversos aspectos da sua experiência subjetiva com a loucura e da sua visão sobre militância e a política. Simultaneamente, apresentamos algumas questões trazidas pelo pensamento do último Foucault, onde este se detém sobre o tema da política, em suas relações com a subjetividade, identidade, poder e militância. Ao aproximarmos o pensamento crítico que os usuários vêm produzindo sobre si, sua condição e seus direitos de uma visão foucaultiana da militância e da política, trazemos a perspectiva de uma compreensão desta como um campo de experimentações e invenções, evidenciando seu potencial transformador de indivíduos e coletivos.