Particularidades dos ciclos enzoóticos de trypanosoma cruzi em municípios com e sem a ocorrência de surtos de doença de chagas aguda na Serra do Bico do Papagaio, Estado do Tocantins / Particularities of enzootic cycles of Trypanosoma cruzi in municipalities with and without the occurrence of outbreaks of acute Chagas disease in the Parrot's Beak Serra, State of Tocantins

RESUMO

A tripanossomíase americana, primariamente uma enzootia silvestre, ocorre dos Estados Unidos até a Patagônia, e inclui centenas de espécies de mamíferos pertencente à oito ordens e 25 famílias. Desde 2006, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), considera o Brasil livre da transmissão domiciliar vetorial do T.cruzi pelo Triatoma infestans. Entretanto, um novo perfil epidemiológico da doença de Chagas (DC) vem emergindo. Casos de doença de Chagas aguda (DCA) têm ocorrido principalmente na região Amazônica. Na microrregião da serra do Bico do Papagaio, estado do Tocantins, de 2008 a 2011 foram registrados 16 casos de DCA. Esse trabalho teve como objetivo compreender se algum cenário enzóotico propicia a ocorrência de surto/casos de DCA na microrregião da serra do Bico do Papagaio, comparando as particularidades dos ciclos enzóotico de transmissão de T. cruzi em municípios com e sem surto/casos de DCA. Para isso avaliamos a diversidade e abundância de espécies de pequenos mamíferos silvestres e sinantrópicos, sua taxa de infecção e competência infectiva por T. cruzi nos municípios de Axixá do Tocantins, Augustinópolis, Esperantina, Araguatins, Tocantinópolis, Nazaré e Ananás, por testes parasitológicos (exame á fresco de sangue e hemocultura) e sorológicos (RIFI), igualmente foram examinados os cães domésticos testes parasitológicos e sorológicos (RIFI e ELISA). Foram observados ciclos enzoóticos com micropeculiaridades regionais de transmissão do T. cruzi nos sete municípios estudados. Didelphidae foi o táxon que estava atuando como reservatório do T. cruzi na microrregião, como atestando pelos testes parasitológicos. A caracterização molecular dos isolados do parasito demostrou a presença dos genótipos TcI, TcII e Z3 no ciclo de transmissão T. cruzi da região. O único isolado de TcII de Didelphis marsupialis, constituindo o primeiro registro desse genótipo na região Amazônica brasileira. O genótipo TcI demonstrou ser o mais ubíquo, uma vez que foi encontrado infectando mamíferos em todas as áreas onde foi possível o isolamento do parasito. Os cães, assim como os roedores, não apresentam importância epidemiológica na região, estando apenas expostos ao ciclo de transmissão do parasito, conforme demonstrado na RIFI. Observou-se que os que a taxa de infecção por T. cruzi nos cães correspondeu à proximidade do ciclo enzóotico das áreas de atividade do homem. Não observamos uma diferença evidente entre os ciclos enzoóticos das áreas que ocorreram surto com as que não ocorreram. Concluímos que os casos de DCA ocorreram por desconhecimento nas normas básicas de higiene, assim como desconhecimento da população sobre a DC e as formas de transmissão do T. cruzi. A forma de prevenir novos casos de DCA é a educação e conscientização da população.