Interpretações locais sobre a malária e o discurso sobre os provedores tradicionais de cuidados de saúde no sul de Moçambique / Local interpretations on malaria and the discourse on the traditional health care providers in southern Mozambique
Saúde Soc
; 25(2): 392-407, tab, graf
Article
de Pt
| LILACS
| ID: lil-787839
Bibliothèque responsable:
BR67.1
RESUMO
As narrativas sobre o diagnóstico e as causas da malária são diversas e aparentemente ambíguas, sendo baseadas para além do corpo, nas relações sociais estabelecidas entre pares, os seus antepassados e a natureza. Com base num estudo qualitativo e na permanência em Moçambique durante quatro anos, este artigo pretende analisar os discursos dos pacientes e praticantes biomédicos sobre os provedores de cuidados de saúde tradicionais, isto é, tinyanga e pastores ziones, articulando-os com as terminologias locais da malária, num distrito rural no sul de Moçambique. No atual contexto de pluralismo terapêutico e elevada mobilidade, a falta de compaixão e solidariedade atribuída aos tinyanga é fundamentada pela monetarização e comoditização dos seus saberes e rituais medicinais, bem como pela competição com outros provedores na captação de doentes. A implantação das igrejas ziones, de cariz cristão e com práticas terapêuticas semelhantes às dos tinyanga, apresenta-se como uma solução local vantajosa devido à forte ligação comunitária, ao consolo e reciprocidade entre os seus membros e aos resultados terapêuticos a baixo custo. No nível das políticas de saúde e da prática clínica, a invisibilidade dos pastores ziones e o papel subalterno dos tinyanga é gerido à medida dos interesses, das ideias vagas e dos preconceitos que os provedores biomédicos possuem sobre esses provedores terapêuticos. A implementação de políticas de saúde que atendam à diversidade local, às relações de poder existentes e aos conhecimentos e práticas médicas podem fortalecer os cuidados biomédicos prestados e harmonizar as relações entre os provedores e a população.
ABSTRACT
The narratives on the diagnosis and causes of malaria are diverse and apparently ambiguous, being based beyond the body, on the social relations among peers, their ancestors, and nature. Based on a qualitative study and a four-year stay in Mozambique, this article analyzes the discourses of patients and biomedical practitioners on traditional health care providers, i.e., tinyanga and zion pastors, linking them to local terminology of malaria, in a rural district in southern Mozambique. In the current context of therapeutic pluralism and high mobility, the lack of solidarity and compassion attributed to tinyanga is supported by the monetization and commodification of their medicinal rituals and knowledge, as well as by competition with other providers in attracting patients. The implementation of zion churches, of Christian nature and performing therapeutic practices similar to tinyanga, is presented as a local advantageous solution due to the strong community connection, the comfort and reciprocity among the members, and the therapeutic results at low cost. In terms of health care policies and clinical practice, the invisibility of zion pastors and the subordinate role of healers is managed according to interests, based on vague ideas and prejudices from biomedical providers. The implementation of health policies that address the local diversity, the existing power relations and medical knowledge and practices can strengthen the biomedical care services and harmonize relations between the providers and the population.
Mots clés
Texte intégral:
1
Indice:
LILACS
Sujet Principal:
Relations médecin-patient
/
Pratique professionnelle
/
Thérapeutique
/
Prestations des soins de santé
/
Politique de santé
/
Paludisme
Type d'étude:
Qualitative_research
Limites du sujet:
Female
/
Humans
/
Male
langue:
Pt
Texte intégral:
Saúde Soc
Thème du journal:
SAUDE PUBLICA
Année:
2016
Type:
Article