Estado nutricional e saúde de escolares do município de Lokossa ­ Benin / Nutritional status and health of schoolchildren in the municipality of Lokossa ­ Benin

RESUMO

INTRODUÇÃO: As crianças e os adolescentes constituem um grupo populacional especialmente sensível às mudanças comportamentais e culturais que afetam o estado nutricional e de saúde. OBJETIVOS: Este estudo objetivou descrever indicadores nutricionais, cardiometabólicos e de consumo alimentar em escolares da última série do ensino primário em Lokossa, Benin, e identificar fatores associados com indicadores de pior estado nutricional. MÉTODOS: Estudo transversal com amostra representativa (n=615) de escolares do sexto ano do ensino primário de 26 escolas públicas e privadas das áreas urbana e rural do município de Lokossa (dezembro/2018-janeiro/2019). A coleta de dados, precedida de um estudo piloto, foi realizada por auxiliares de pesquisa treinados, utilizando questionário estruturado autopreenchido, recordatório-24 horas, aferição de medidas antropométricas e de pressão arterial, bem como coleta de sangue na ponta do dedo para dosagem da hemoglobina. Em subamostra (n=165), foram obtidas medidas bioquímicas. O projeto foi aprovado no comitê de ética do Benin e foram obtidos Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e Termo de Assentimento Livre e Esclarecido. No Artigo 1, foram realizadas análises estratificadas por sexo baseadas em média e desvio padrão e prevalência com intervalo de confiança de 95%. Diferenças entre médias e proporções foram testadas por regressão linear e qui-quadrado de Person. No Artigo 2, fatores associados à magreza e à baixa estatura foram estimados pelo Odds Ratio e seu intervalo de confiança de 95% foi obtido por regressão logística binária. RESULTADOS: Artigo 1 A média de idade foi de 11,6 (0,1) anos, sem diferenciação por sexo. A prevalência de magreza e de baixa estatura foram, respectivamente, 13,1% (IC95% 9,0-18,7) e 25,5% (IC95% 20,6-31,2), sendo a baixa estatura mais frequente em meninos (31,3%; IC95%24,8-38,5) do que em meninas (18,3%; IC95%13,0-25,0). A prevalência de excesso de peso foi de 6,5% (IC95%3,9-10,6), enquanto a anemia foi o indicador de carência nutricional mais frequente (47,5%; IC95%39,7-55,3), sem diferenças estatisticamente significantes relacionadas ao sexo. O colesterol HDL baixo (34,3%; IC95%20,0-52,1) e a pressão arterial elevada (31,2%; IC95%21,6-42,7) foram observados em cerca de um terço dos escolares 11,6% (IC95%3,9-16,6) tinham colesterol total elevado e menos de 10% (8,3; IC95%3,9-16,6) tinham hiperglicemia, também sem diferenças estatisticamente significantes relacionadas ao sexo. Os alimentos saudáveis com maior frequência de consumo regular foram peixe e hortaliças; enquanto salgados fritos e biscoitos doces destacaram-se como alimentos não saudáveis. Apenas o consumo de guloseimas variou entre os sexos, sendo mais frequente entre meninas (p<0.001). Metade dos escolares apresentaram alta diversidade alimentar. De acordo com o Artigo 2, as chances de magreza foram maiores entre escolares mais velhos e que relataram sentir fome na escola. Chances de baixa estatura aumentaram com idade, baixa diversidade alimentar, relatos de fome na escola e merenda escolar em cinco dias/semana (OR2,09; IC95%1,29-3,36), e diminuíram com a maior escolaridade materna (OR0.36; IC95%0,18­0,70). CONCLUSÃO: A desnutrição crônica e a anemia foram os problemas nutricionais mais importantes entre os escolares. Essas carências nutricionais coexistem com o excesso de peso e, especialmente, com alterações metabólicas e pressão arterial elevada, sugerindo a dupla carga da desnutrição nessa população. Os resultados deste estudo sustentam a relevância da insegurança alimentar, particularmente a privação alimentar, para explicar a magreza e o nanismo. A baixa diversidade alimentar também parece contribuir para a desnutrição crônica, enquanto a maior escolaridade materna parece atenuar o problema.

ABSTRACT

INTRODUCTION: Children and adolescents constitute a population group that is particularly sensitive to behavioral and cultural changes that affect nutritional status and health. OBJECTIVES: This study aimed to describe nutritional and cardiometabolic indicators and food consumption in schoolchildren in the last grade of primary school in Lokossa, Benin; and identify factors associated with indicators of worse nutritional status. METHODS: Cross-sectional study with a representative sample (n=615) of schoolchildren in the sixth year of primary school from 26 public and private schools in the urban and rural areas of the municipality of Lokossa (December/2018-January/2019). Data collection, preceded by two pilot studies, was performed by trained research assistants, using a structured self-completed questionnaire, 24-hour recall, anthropometric measurements, blood pressure measurements and blood collection at the fingertip for hemoglobin measurement. In a subsample (n=165) biochemical measurements were obtained. The project was approved by the Benin Ethics Committee and obtained a consent form and an informed consent form. In Article 1, analyzes stratified by sex were performed based on mean and standard deviation and prevalence and its 95% confidence interval. Differences between means and proportions were tested by linear regression and Person chi-square. In Article 2, factors associated with thinness and stunting were estimated by the Odds Ratio and 95% confidence interval obtained by binary logistic regression. RESULTS: Article 1 The mean of age was 11.6 (0.1) years with no difference by sex. The prevalence of thinness and stunting were respectively 13.1% (95%CI 9.0-18.7) and 25.5% (95%CI 20.6-31.2), being stunting more frequent in boys (31.3%; 95%CI 24.8-38.5) than girls (18.3%; 95%CI 13.0- 25.0). The prevalence of overweight and obesity was 6.5% (95%CI 3.9-10.6), while anemia was the most frequent indicator of nutritional deficiency (47.5%; 95%CI 39.7- 55.3), with no statistically significant differences by sex. Low HDL cholesterol (34.3%; 95%CI 20.0-52.1) and high blood pressure (31.2%; 95%CI 21.6-42.7) were observed in about one third of the schoolchildren, 11.6% (95%CI 3.9-16.6) had high total cholesterol and in less than 10% (8.3; 95%CI 3.9-16.6) hyperglycemia, with no statistically significant differences for sex. The healthy foods with the highest frequency of regular consumption were fish and vegetables; while fried snacks and sweet biscuits stood out as unhealthy foods; only the consumption of sweets varied between genders, being more frequent among girls (p<0.001). Half of the schoolchildren showed high dietary diversity. In Article 2, the chances of thinness were higher among older schoolchildren who reported feeling hungry at school. Chances of stunting increased with age, low dietary diversity, reporting hunger at school and school meals five days/week (OR 2.09; 95%CI 1.29-3.36), while they decreased with greater maternal education (OR0.36; 95%CI0.18-0.70). CONCLUSION: Chronic malnutrition and anemia were the most important nutritional problems among schoolchildren. These nutritional deficiencies coexist with excess weight and especially metabolic changes and high blood pressure, suggesting the double burden of malnutrition in this population. The results of this study support the importance of food insecurity, particularly food deprivation, to explain thinness and stunting. Low dietary diversity also seems to contribute to chronic malnutrition, while greater maternal education seems to mitigate the problem.