Obesidade e gravidez: mulheres obesas e seus hábitos alimentares durante a gravidez / Obesity and pregnancy: obeses women and its alimentary habits during the pregnancy

RESUMO

O objetivo deste estudo foi compreender a percepção que gestantes obesas têm da sua dimensão corporal antes e durante a gravidez, no que diz respeito às suas relações com a imagem corporal e satisfação pessoal; investigar a interferência da gravidez, do contexto sócio-familiar e dos seviços de saúde em seus hábitos alimentares.Em abordagem qualitativa realizaram-se entrevistas semi-estruturadas com gestantes adultas com obesidade pré-gestacional, atendidas em unidades de saúde pública do município do Rio de Janeiro. A análise foi construída a partir da identificação de núcleos básicos de sentido vinculados à dimensão corporal, influência sócio-familiar e dos serviços de saúde no processo de obesidade durante a gravidez; e interferência da gravidez nos hábitos alimentares.Observou-se que com o evento da gestação houve a transformação do corpo obeso em corpo grávido representado pela postura corporal, pela qualificação da própria barriga e das mamas, pela mudança do vestuário e também pela referência ao outro corpo que se desenvolve dentro dela. As entrevistadas valorizam o consumo de alimentos que foram considerados básicos como o arroz, feijão e carne, e enfatizaram a importância do consumo dos alimentos vegetais,especialmente os ricos em ferro. Os carboidratos, apesar de bastante consumidos, apareceram como alimentos que devem ser restritos, especialmente os doces. As gorduras, com ênfase nas "frituras", foram consideradas como prejudiciais à saúde. A preocupação com o concepto, foi referida como justificativa para a motivação na mudança do padrão de consumo de alguns alimentos, principalmente no consumo regular de vegetais. Outras mulheres relataram que os vegetais não eram consumidos por serem considerados caros ou "comida sem gosto". Os enjôos e vômitos não chegaram a provocar mudanças profundas na rotina alimentar, sendo atenuados com alguns ajustes nas refeições. Acreditamos que seja da maior importância, que profissionais de saúde percebam as mulheres para além da maternidade e da obesidade, devendo tentar compreendê-las a partir da sua história de vida e o contexto onde se inserem. A responsabilidade do profissional em promover mudanças na alimentação não deve se traduzir em processo de culpabilização da gestante. A relação singularizada entre o profissional e a gestante poderá viabilizar a negociação de um melhor plano alimentar, flexível e compatível com as necessidades de cada mulher.