Perfil clínico do paciente para o uso da ventilação não invasiva em uma unidade de terapia intensiva pediátrica / Patient clinical profile for the use of non-invasive ventilation in a pediatric intensive care unit

RESUMO

A ventilação não invasiva (VNI) é uma técnica de suporte ventilatório na qual é aplicada pressão positiva nas vias aéreas sem a necessidade de dispositivos invasivos, utilizando interfaces como máscaras para aplicar tal pressão. Este recurso terapêutico tem se popularizado em diversas situações e grupos de pacientes, sendo seu uso em pediatria especialmente particular e crescente nos últimos anos. Objetivos: Investigar o uso da ventilação não invasiva em uma unidade de terapia intensiva pediátrica de um hospital terciário do Rio de Janeiro, descrevendo as principais indicações, modos de aplicação e particularidades no seu uso clínico. Material e métodos: Trata-se de estudo do tipo transversal, descritivo e analítico, que faz parte de um projeto guarda-chuva aprovado pelo Comitê de Ética do Instituto Fernandes Figueira ­ IFF/Fiocruz. Os pacientes foram selecionados a partir de busca ativa pelo registro de internações e altas da unidade, sendo selecionados aqueles entre 0 a 18 anos completos que fizeram uso da VNI durante internação no período correspondente entre janeiro de 2018 a dezembro de 2019 na Unidade de pacientes graves (UPG) do IFF/Fiocruz. Os dados de identificação dos participantes foram codificados, e coletadas as informações sobre o perfil clínico, classificação de gravidade, e todas as informações pertinentes ao uso da VNI, como a interface utilizada, modo ventilatório, tipo de ventilador, tempo de uso, desfecho clínico, entre outros. Resultados: Foram registrados 141 pacientes que utilizaram VNI no período, correspondendo a um total de 157 eventos. 56,7% dos pacientes foram do sexo masculino. A mediana de peso variou de 7 a 7,4 kg e a idade mediana de 6 a 6,5 meses entre os dois grupos do estudo. Os diagnósticos de internação envolvendo causas respiratórias compreenderam 76,5% dos pacientes. Do total de eventos da VNI, 45,2% foram eventos como primeira abordagem ventilatória para a insuficiência respiratória, com taxa de sucesso de 77,5%. A avaliação dos casos de falha revelou que as variáveis de gravidade na admissão e predição do risco de mortalidade tiveram forte associação com este desfecho. 61,1% dos eventos totais de VNI ocorreram por meio de ventilador portátil, enquanto as interfaces mais utilizadas foram as máscaras nasais (38,5%). O principal desfecho da internação foi a transferência para a unidade intermediária (48%). Considerações finais São diversas as evidências e possibilidades para o uso bem sucedido da VNI em terapia intensiva pediátrica, refletindo sua versatilidade clínica e operacional. Além disso, é possível utilizar VNI com sucesso em pacientes graves cuidadosamente selecionados na admissão a partir de escores de gravidade clínica.

ABSTRACT

Non-invasive ventilation (NIV) is a ventilatory support technique in which positive pressure is applied to the airway without the need for invasive devices, using interfaces such as masks to apply such pressure. This therapeutic resource has become popular in different situations and groups of patients, and its use in pediatrics is especially particular and has increased in recent years. Objectives: To investigate the use of noninvasive ventilation in a pediatric intensive care unit of a tertiary hospital in Rio de Janeiro, describing the main indications, modes of application and particularities in its clinical use. Material and methods: This is a cross-sectional, descriptive and analytical study, which is part of an umbrella project approved by the Ethics Committee of the Instituto Fernandes Figueira ­ IFF/Fiocruz. The patients were selected from an active search for the unit's admissions and discharges registry, being selected those aged 0 to 18 years who used NIV during hospitalization in the corresponding period between January 2018 and December 2019 in the Critically ill Unit (UPG) of the IFF/Fiocruz. Participants' identification data were coded, and information was collected on the clinical profile, severity classification, and all information relevant to the use of NIV, such as the interface used, ventilatory mode, type of ventilator, time of use, clinical outcome , between others. Results: A total of 141 patients who used NIV in the period were registered, corresponding to a total of 157 events. 56.7% of patients were male. The median weight ranged from 7 to 7.4 kg and the median age from 6 to 6.5 months between the two study groups. Hospitalization diagnoses involving respiratory causes comprised 76.5% of patients. Of the total NIV events, 45.2% were events as the first ventilatory approach for respiratory failure, with a success rate of 77.5%. The assessment of failure cases revealed that the variables of severity at admission and prediction of mortality risk were strongly associated with this outcome. 61.1% of the total NIV events occurred through a portable ventilator, while the most used interfaces were nasal masks (38.5%). The main outcome of hospitalization was transfer to the intermediate unit (48%). Final considerations There are several evidences and possibilities for the successful use of NIV in pediatric intensive care, reflecting its clinical and operational versatility. Furthermore, it is possible to successfully use NIV in critically ill patients carefully selected on admission from clinical severity scores.