Modernizar a ordem em nome da saúde: a São Paulo de militares, pobres e escravos (1805-1840) / Modernizar a ordem em nome da saúde

RESUMO

Percorre os caminhos do higienismo e do pensamento sanitário num período e num espaço social pouco frequentados, se não mesmo desprezados pela historiografia a São Paulo da primeira metade do século XIX. A higiene do século XIX tornou-se uma religião laica que era ao mesmo tempo médica e moral, pois produzia um discurso normativo, baseado na autoridade moral da natureza. O termo polícia médica como instrumento higiênico de ordenação do espaço social traduzia igual ambivalência. Povo policiado era, então, sinônimo de povo civilizado, cujas leis higiênicas se oporiam aos costumes bárbaros. Assim, policiar era polir, introduzir polícia. No entanto, nesta obra, argumenta-se que o início do século XIX foi o momento em que a limpeza deixou de ser unicamente um elemento que denotava nobreza para assumir uma característica utilitária de preservação da saúde, em conformidade com a nova ordem imperial. Desse modo, liberalismo, cativeiro e miasmas se articulavam numa medicalização seletiva da cidade que encontrou como elemento legitimador o conceito de polícia médica. E a tradução institucional desse conceito excluiu a dimensão crítica e reformista dos efeitos deletérios da ordem social liberal europeia, exacerbando uma versão portuguesa mais punitiva.