As Leishmanioses no município de Belo Horizonte: estudos entomológicos e biogeográficos visando a vigilância epidemiológica / The Leishmaniasis in the city of Belo Horizonte: entomological and biogeographical studies aiming at the epidemiologic surveillance

RESUMO

O estudo das leishmanioses foi realizado no município de Belo Horizonte (BH), estado de Minas Gerais, Brasil. As capturas entomológicas sistemáticas, foram realizadas mensalmente, em 3 domicílios de cada uma das 9 regionais do município, utilizando armadilhas luminosas de CDC, durante 4 dias consecutivos, no período de abril de 2001 a março de 2003. As armadilhas foram dispostas no peri e intradomicílios totalizando 54 armadilhas. Foram capturados 3.871 exemplares de flebotomíneos pertencentes aos gêneros Lutzomyia e Brumptomyia. Sessenta e oito por cento dos espécimens capturados pertenceram à espécie Lutzomyia longipalpis e dezesseis por cento a Lutzomyia whitmani, vetoras da Leishmaniose Visceral e leishmaniose tegumentar americana respectivamente. Os estudos bioclimáticos (temperatura, umidade e precipitação) sugerem que o número de insetos aumenta após períodos chuvosos. No mesmo período, foram realizadas capturas sazonais em parques e reservas verdes de BH utilizando armadilha de Shannon. Foram capturados 579 flebotomíneos sendo 398 (68,7por cento) fêmeas. Esses exemplares foram utilizados para exame de infecção natural, através de reação em cadeia da polimerase (PCR). Não foi detectada a presença de DNA de Leishmania amplificado em nenhum dos exemplares testados. Nos estudos de geoprocessamento foram georreferenciados e correlacionados dados de casos humanos de leishmaniose visceral e tegumentar, casos caninos, insetos vetores (L. longipalpis, L. whitmani, L. intermedia, L. pessoai) coletados no período entre abril de 2001 e março de 2002 e informações biogeográficas (área de influência da vegetação, hidrografia, altitude e áreas de bolsões de pobreza) sobre o município. As análises demonstraram que 84,2por cento e 55,5por cento dos casos humanos de LV e LTA, respectivamente, estão relacionados com casos caninos. A maioria dos casos humanos e caninos localizou entre as altitudes de 780 a 880 metros acima do mar. Não foram observados coerências nos dados de capturas de flebotomíneos e os casos humanos. Sugerimos que seja planejado um controle mais eficiente, estabelecendo planos de ação conforme as regiões dos focos de leishmaniose canina no município. Essa estratégia deve envolver todas as regionais limítrofes ao foco sem a barreira das “áreas administrativas”.