Identificação mórbida: comunicação transgeracional traumatizante / Morbid identification: traumatizing transgenerational communication

RESUMO

Este trabalho discute como a predominância dos mecanismos de identificação projetiva patológica dos objetos primários, isto é, a identificação mórbida, presente na transmissão transgeracional e intergeracional, é traumatizante no desenvolvimento emocional do indivíduo. Esse conceito se articula com a historicidade do sujeito e a influência do ambiente na constituição do psiquismo. Ressalta-se como a descoberta dessa comunicação inconsciente – transformadora e reveladora de uma dimensão histórica do ser humano – é enriquecedora para a compreensão do sofrimento psíquico, pois torna possível integrar na vida mental dos pacientes seus aspectos secretos, ocultos, enigmáticos ou sem representação psíquica. Narram-se duas situações clínicas, em que a presença de identificações mórbidas – enquanto um fenômeno transgeracional que se revelou na situação transferencial, transbordando o campo intrapsíquico – impedia que desenvolvesse um psiquismo próprio. Mostra-se como a identificação mórbida, que pode habitar ou parasitar o self, demanda uma intervenção psicanalítica que leve o sujeito a desidentificar-se, para que o brincar e o sonhar ocupem seu lugar

ABSTRACT

This paper discusses the prevalence of pathological projective identification mechanisms of primary objects, i.e., morbid identification which is present in the transgenerational and intergenerational is traumatizing in the individual’s emotional development. This concept is articulated with the subject’s historicity and the influence of the environment in the constitution of psychism. The discovery of this unconscious communication is highlighted - transformative and revealing of a historical dimension of the human being - and is enriching for the comprehension of psychic suffering, since it enables the integration of secret, secluded, intriguing or without psychic representation aspects in the patients’mental lives. Two clinical vignettes are narrated, in which the presence of morbid identifications - while a trangenerational phenomena that has revealed itself in the transference, going beyond the intrapsychic field- hindered the development of the own psychism. It is shown how morbid identification, which can inhabit or be a parasite to the self demands psychoanalytical intervention which allows the subject to dis-identify himself so that play and dream are able to occupy their space