Paleoepidemiologia dos traumas agudos em grupos atacamenhos: a violência sob uma perspectiva diacrônica / Paleoepidemiology of the trauma in groups Atacama Oasis: the violence under a perspective diacronica

RESUMO

O presente trabalho vem dar continuidade ao estudo de traumas agudos associados à violência em populações pré-colombianas atacamenhas que viveram no oásis de San Pedro de Atacama, Chile. Foram analisadas amostras de indivíduos adultos de ambos os sexos provenientes dos cemitérios Coyo Oriente, Coyo-3 e Quitor-6, pertencentes aos períodos Tiwanaku e pós-Tiwanaku. As lesões consideradas foram as fraturas de crânio, de osso nasal, de ulna e aquelas ocasionadas pela penetração de pontas de flecha. Em todas as amostras foram observadas freqüências de lesões violentas mais altas entre os indivíduos masculinos, embora o padrão das mesmas apresente diferenças para cada período cultural. Para Coyo Oriente, um padrão muito específico, com concentração de lesões nos ossos nasais (10,4 por cento), foi interpretado como resultados de lutas rituais. Para Coyo-3, a alta freqüência observada (33,3 por cento) foi associada ao turbulento cenário sócio-político vivido durante a retração Tiwanakota na região. Quitor-6 apresentou uma freqüência mais baixa (27,3 por cento), apesar de representar um período marcado pela construção de estruturas defensivas. O pequeno número de indivíduos masculinos que compõem a amostra (n=11), no entanto, pode estar indicando que os guerreiros foram enterrados em outro lugar. Entre as mulheres, as amostras de Coyo-3 e Quitor-6 apresentaram freqüências de lesões violentas equivalentes (9,9 por cento e 9 por cento), interpretadas como violência doméstica. A amostra de Quitor-6 apresentou uma freqüência mais alta (22,2 por cento), contrariando a tendência decrescente observada entre as mulheres para os períodos anteriores. Este dado, associado ao contexto do período, sugere que os ferimentos podem estar associados às tentativas de invasões no oásis.