Infertilidade e reprodução humana: um estudo sobre a percepção social dos riscos / Infertility and reproduction human: a study on the social perception of the risks

RESUMO

Pesquisa quali-quantitativa e método monográfico foram utilizados para identificar as representações, valores e crenças associadas à percepção de risco relacionada à saúde reprodutiva humana em 50 mulheres/casais, pacientes do Ambulatório de Infertilidade da Divisão de Reprodução Humana do Hospital Moncorvo Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Embora a infertilidade seja considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) uma doença, um problema de saúde pública, normalmente é percebida, a princípio, como dificuldade, impedimento para ter filhos. Passa a configurar doença a partir da busca por tratamento, ou seja, por meio do processo educativo possibilitado pela interação médico-paciente. A medicalização da ausência de filhos é evidente e a infertilidade é considerada quebra da norma, do padrão sócio-cultural estabelecido para o gênero feminino. A análise das causas identificada por meio da percepção de risco das pacientes demonstra a manutenção do risco como dispositivo biopolítico e como construção social, justificando a culpabilização estabelecida na relação entre infertilidade e causas orgânicas e relativizada em decorrência do stress, que reúne explicações de diversas naturezas, inclusive bruxarias e maus-olhados. Entretanto, analisar o stress como decorrente da cultura de gênero imputa a culpa pela infertilidade mais uma vez às mulheres e ainda ilustra a imensa carga de sofrimento pela infertilidade e em decorrência da própria busca por soluções. Assim, outras causas dificilmente são consideradas, tais como aquelas decorrentes das condições de existência das mulheres/casais e mesmo as masculinas. Assim, a noção de risco como estratégia biopolítica e como construção social mantém a hegemonia masculina, patriarcal e burguesa.