Alterações óssea e articulares na hanseníase / Bone and joint changes in leprosy

RESUMO

Objetivou-se o presente trabalho de modo a contribuir para a prevenção, o diagnóstico precoce e tratamento apropriado das lesões ósseas e articulares na hanseníase, reduzindo o impacto mundial das doenças deformantes e mutilantes. Assim, foi realizada uma série de estudos retrospectivos longitudinais e de corte transversal em pacientes recém diagnosticados com Hanseníase ou que receberam poliquimioterapia (PQT) em dose fixa, com o fim de avaliar as osteoartropatias e seus mecanismos fisiopatogênicos. Foi observada uma progressão das acropatias ósseas durante e após a PQT. Em uma amostra de 93 pacientes multibacilares tratados, observou-se, clinicamente, uma prevalência de 7,5 por cento de absorção nas extremidades. Ao incluir os dados radiológicos na análise de 105 pacientes, a prevalência aumentou para 21,7 por cento. A progressão das acropatias encontrou-se associada à neuropatia periférica e suas complicações, à presença de episódios reacionais crônicos e à manutenção de níveis séricos elevados de fator de necrose tumoral alfa. A reabsorção óssea persistiu ativa em 50 por cento dos 30 pacientes avaliados após 5 anos do fim da PQT. Em pacientes com episódios reacionais prolongados ou recorrentes, avaliados com técnicas de medicina nuclear, detectaram-se freqüentes alterações ósseas e articulares principalmente de natureza inflamatória e uma elevada prevalência (27 por cento) de osteoporose lombar. Nestes pacientes, as áreas de predomínio de osso trabecular foram mais afetadas por osteopenia, enquanto nos pacientes virgens de tratamento avaliados, observou-se osteopenia predominantemente em áreas de osso compacto (80 por cento dos pacientes). Os supracitados resultados sugerem que a reação imunoinflamatória é um fator importante envolvido no acometimento ósseo e articular na hanseníase, a qual age isoladamente ou em conjunto com os mecanismos de natureza infecciosa, neurológica e vascular. Os pacientes com neuropatia periférica e episódios reacionais recorrentes devem ser acompanhados e avaliados radiologicamente após a alta terapêutica.