Ecologia comportamental de Panstrongylus megistus (Burmeister, 1835) (Hemíptera: Reduviidae) em laboratório / Behavioral ecology of Panstrongylus megistus (Burmeister, 1835) (Hemiptera: Reduviidae) under laboratory

RESUMO

A maioria dos estudos sobre o comportamento de triatomíneos têm sido desenvolvidos com as duas espécies mais importantes na transmissão do Trypanosoma cruzi ao homem, ou seja, o Triatoma infestans e o Rhodnius prolixus. Entre outras espécies de importância epidemiológica, o Panstrongylus megistus apresenta grande potencial vetorial, caracterizado pelas suas altas taxas de infecção natural, suscetibilidade a cepas diferentes, produção de colônias intra e peridomiciliares em altas densidades e estreita associação aos hospedeiros domiciliares, entre eles o homem. O presente trabalho teve por objetivo avaliar diferentes aspectos do comportamento do P. megistus que afetam a sua distribuição e dispersão, entre estes, alguns relacionados com fatores abióticos como a sua termo e higropreferência, e outros relacionados com a sua comunicação intraespecífica nos contextos da escolha de abrigos e de parceiro sexual. Os resultados deste trabalho demonstraram que a termopreferência e a higropreferência do P. megistus são dependentes do status nutricional dos insetos. Quando recém alimentados e durante o processo da muda, os insetos escolhem permanecer em locais com temperaturas mais elevadas, assim como umidades relativas (Urs) baixas. Com o aumento do jejum, os insetos buscam locais com temperaturas mais baixas e maior UR. Variações diárias na termopreferência dos insetos também foram observadas. Durante a fotofase os insetos permaneciam em temperaturas mais baixas e durante a primeira metade da escotofase buscavam locais com temperaturas mais elevadas. Sugere-se que estas variações possam constituir um mecanismo comportamental de regulação do metabolismo, aumentando a chance dos insetos ficarem ativos nos momentos de procura de alimento. Não foi observada uma higropreferência das fêmeas para a oviposição, porém há uma aparente preferência de temperatura para ovipôr já que os ovos foram depositados entre 22°C e 32°C com um pico máximo em 29°C. Semelhantemente, nós observamos uma aparente termo e higropreferência para a realização da ecdise. Em relação com os sinais químicos que afetam a escolha de abrigos, foi observado que larvas de P. megistus se agregam ao redor de papéis impregnados com fezes. Além disso, estes insetos também mostraram uma agregação muito intensa frente a substâncias presentes na sua cutícula. Observou-se uma atração significativa das larvas de P. megistus a papéis impregnados com fezes ou compostos presentes na cutícula do T. infestans. Ainda, também o T. infestans se agregou frente a papéis impregnados com fezes ou substâncias da cutícula de P. megistus. Os experimentos de comportamento reprodutivo demonstraram que a aproximação do casal sempre acontece por iniciativa do macho que normalmente é respondido pela fêmea com um comportamento de rechaço. A freqüência de cópulas mostrou um aumento em função do tempo transcorrido após o primeiro repasto imaginal que é provavelmente devido à concomitante diminuição dos rechaços pelas fêmeas. Não foi observada agregação de machos em torno de casais em cópula, como observado por outros autores para o R. prolixus e o T. infestans. Em quase todos os casos, as fêmeas copularam uma única vez ao longo do experimento apesar das múltiplas tentativas dos machos. Esta característica comportamental do P. megistus o diferencia claramente do T. infestans, já que as fêmeas desta última espécie copulam com mais de um macho ao longo da sua vida, inclusive apresentando cópulas sucessivas em curtos intervalos de tempo.