Programa de Saúde da Família: autonomia ou controle? / Family´s Health Program: autonomy or Control?

RESUMO

Este trabalho faz uma análise das práticas de saúde desenvolvidas pelo Programa de Saúde da Família, a partir da percepção dos profissionais de saúde nelas envolvidos, segundo um recorte em que se procura descobrir os elementos de dominação e de autonomia que as perpassam. Realizaram-se entrevistas e grupos focais com equipes de saúde da família de 13 diferentes municípios de Minas Gerais. Detectaram-se, nas falas dos profissionais, referências que sinalizam para a existência de práticas controladoras e coercitivas tanto para a equipe, como desta para os usuários e para a comunidade. Não está em jogo, nessa análise, se há ou não, nessas falas, a intenção explícita de dominação sobre as famílias e a comunidade, mas sim o fato de descreverem o seu exercício, que acaba passando por um desdobramento "natural" ou uma necessidade do trabalho. Referências críticas a essas práticas são quase ausentes do discurso dos entrevistados. Entretanto, são encontrados em suas falas importantes aspectos - tais como compromisso, respeito, ética e afeto - sem os quais não seria possível a geração de práticas participativas, fundadas na autonomia dos envolvidos, necessárias para se contrapor e superar os elementos de dominação e controle.

ABSTRACT

This work makes an analyses of the health practices developed in the Family's Health Program that comes from a perception of the health professionals involved with the program, and tries to uncover the elements of domination and autonomy that perpass this program. Interviews and focal groups were done with Family's.Health teams from 13 different cities in Minas Gerais state. After that it was possible to detect in the profes- sionals' speeches references that signalize to the existence of coercive and controlling practices towards the team itself, and also from the team to the users and to the local community. It is not important for this analysis to see if there is or not, in these speeches, the explicit intention of domination over the families and over the community, but yet the fact that they describe the exercise of these practices which are normally seen as a 'natural' unfolding or a necessity of work. Despite the fact that critical references about these practices are almost always not present in the discourses of the interviewed people, it is possible to find in their speeches important aspects - such as com- promise, respect, ethics and affection - without which it wouldn't be possible to generate participative practices, based on the autonomy of the involved ones, which are necessary to oppose and overcome the elements of domination and control.