O Aluno carente e repetente nao é doente. Um estudo médico-social sobre a questao do fracasso escolar / The needed student who fails in not sick. A medical-social study of school failure

RESUMO

Este trabalho procura entender a questao do fracasso escolar a partir de uma queixa com alta demanda nos serviços de saúde. É comum que o aluno com mau rendimento escolar seja visto como um indivíduo com problemas de saúde. Assim parto para verificar em quatro escolas pùblicas e um posto de saúde, que atendem famílias de baixa renda na Xª Regiao Administrativa do Município do Rio de Janeiro, como surgem as representaçoes sociais que formam a rede de conceitos com os quais os agentes sociais, envolvidos com a questao do mau rendimento escolar (alunos, maes, professores, merendeiras, médicos, enfermeiras e dentistas), vao construir nao só seus raciocínios, mas, também, a maneira que procurarao resolver a questao. Além de discutir, do ponto de vista médico, as entidades nosológicas as quais sao atribuídas as causas do fracasso escolar, a presente dissertaçao alude a questao familiar, a questao da escola propriamente dita e outras questoes que sao colocadas como justificativa da repetência e do mau aproveitamento escolar. Sair dos locais de saúde, ir até a escola, ouvir as pessoas envolvidas, me permitiu enquanto profissional de saúde, compreender mais a fundo uma queixa que chega, nao tao despropositadamente, ao consultório com certa frequência. A investigaçao em saúde se faz além da clínica, também no entendimento da doença de um ponto de vista sócio-epidemiológico, com suporte importante em outras ciências como a antropologia. Por fim, o trabalho contempla o tema fracasso escolar com sua devida inserçao ao nível dos problemas sociais de ordem pública (e nao individual), assegurando um esforço na organizaçao popular, nao só como canal essencial na resoluçao do problema, como na luta pela cidadania e asseguramento dos direitos do cidadao. O fracasso escolar nao pode ser visto como simples questao de saúde. O fracasso escolar nao deve ser encarado como o fracasso do aluno e sim do sistema de ensino, que nao está cumprindo com o seu papel básico que é de ensinar. A saúde nao deve compactuar com esse mecanismo que desfigura o caráter da educaçao. Deve, outrossim, colaborar na ampliaçao dos canais que permitam a participaçao popular, e também, a nível de suporte adequado e eficiente, para resoluçao dos possíveis problemas que realmente podem afetar a saúde dos alunos