A
leishmaniose é uma
doença endêmica no
Brasil causada por
parasitos protozoários do
gênero Leishmania. A
quimioterapia continua sendo a forma mais efetiva de
tratamento com os antimoniais pentavalentes sendo usados há mais de 70 anos como a primeira linha de
tratamento. O uso deste e de outros
fármacos apresenta
efeitos adversos graves, os esquemas terapêuticos
empregados são desconfortáveis, além de relatos do aumento de
casos de resistência. A
proteína de
choque térmico 90 (HSP90) é um membro da
família das chaperonas presente em
células eucarióticas e
bactérias. Essa
proteína é fundamental para o dobramento e estabilização de diferentes
proteínas, chamadas genericamente de
proteínas cliente. Essa chaperona vem sendo considerada um importante alvo molecular para o
tratamento de diferentes
doenças parasitárias. Nessa tese, o inibidor específico da atividade ATPásica da HSP90, o 17-allilamino-17-demethoxigeldanamicina (17- AAG) foi testado em
parasitos do
gênero Leishmania. Inicialmente, avaliamos o efeito em
cultura axênica e observamos que o 17-AAG
causa a
morte desses
parasitos em concentrações inferiores às necessárias para causar a
morte de
macrófagos. Observamos também que o
tratamento com 17-AAG promove a
morte intracelular dos
parasitos em concentrações que variam de 25 a 500 nM nos tempos de 24 e 48 h, sendo também eficaz contra a forma amastigota em tempos mais tardios como 96 h de
infecção. Os
parasitos morrem independentemente da
produção de moléculas
microbicidas pelo macrófago, como superóxido e
óxido nítrico, que tiveram sua
produção reduzida em 61 e 58 %, respectivamente. O
tratamento com 17-AAG também reduziu a
produção de mediadores próinflamatórios como TNF-α,
IL-6 e MCP-1 em 35, 35 e 92 %, respectivamente. Utilizando o modelo de
camundongos BALB/c infectados por
Leishmania braziliensis na
orelha demonstramos que o
tratamento com 17-AAG causou redução do tamanho da
lesão cutânea em 0,5 mm e da
carga parasitaria no local da
infecção em 25 %, no entanto, não foi capaz de reduzir a
carga parasitaria no
linfonodo drenante.
Análise por
microscopia eletrônica de transmissão de
macrófagos infectados e
tratados com 17-AAG revelou alterações características de um processo autofágico com vacuolização do
citoplasma e formação de
vacúolos com dupla membrana, além da presença de figuras de
mielina. Utilizando
parasitos transgênicos observamos que 17-AAG induz um aumento de 30 % na formação de
autofagossomos, que tem a sua capacidade de fusão com
glicossomos e
lisossomos reduzida. Além disso,
parasitos ATG5 knockout, incapazes de formar
autofagossomos foram cerca de 90% mais resistentes à
morte induzida pelo AAG em relação a
parasitos selvagens. Observamos, também, que o
tratamento com MG132, um inibidor da atividade do
proteassoma, assim como o 17-AAG induziu o acúmulo de
proteínas ubiquitinadas de
parasitos, especialmente em 8
parasitos incapazes de formar
autofagossomos, sugerindo um
papel da
autofagia na degradação de
proteínas ubiquitinadas. Por último, observamos que o MG132 foi capaz de induzir a formação de
autofagossomos sugerindo uma ligação entre o acúmulo de
proteínas ubiquitinadas e a indução da via autofágica. Em conjunto, nossos resultados indicam que o HSP90 é um alvo molecular que dever ser explorado no
tratamento das leishmanioses.