A hipocondria é associada a diversos transtornos de ansiedade, sobretudo ao transtorno de pânico (TP). Estima-se que 50 por cento a 70 por cento dos pacientes com TP tenham sintomas hipocondríacos, e que 13 por cento a 17 por cento dos hipocondríacos tenham TP associado. O presente estudo teve como objetivo revisar a literatura sobre as relaçöes clínicas, fenomenológicas, cognitivas e psicodinâmicas entre o TP e a hipocondria, além de discutir aspectos conceituais e critérios diagnósticos.
Considera-se que há comorbidade com hipocondria no TP quando as preocupaçöes com saúde näo se restringem a sintomas das crises de pânico. Apesar de geralmente consideradas secundárias, vários pacientes com TP apresentam, antes da primeira crise, manifestaçöes hipocondríacas que podem ser consideradas prodrômicas. A ansiedade pode gerar, num círculo vicioso, preocupaçöes excessivas com saúde, auto-observaçäo seletiva e antecipaçäo do pior. Apesar do viés catastrófico comum, no TP sintomas autonômicos aumentam rapidamente até culminar num ataque, a catástrofe temida é iminente, com comportamentos de esquiva e busca imediata de socorro. Na hipocondria, temem-se doenças mais insidiosas, predominam comportamentos de hipervigilância e busca de reafirmaçäo, as crenças säo mais disfuncionais, é pior a relaçäo médico-paciente e maior o foco de sensaçöes erroneamente interpretadas catastroficamente. O medo patológico da morte e a alexitimia estariam presentes nos dois quadros.
Conclusäo:
A sobreposiçäo clínica entre TP/agorafobia e hipocondria é relevante, mas näo completa. A relaçäo entre os dois quadros é complexa e possivelmente bidirecional, um aumentando a vulnerabilidade ao outro. Há diferenças fenomenológicas identificáveis e relevantes, com implicaçöes diagnósticas e terapêuticas