ABSTRACT
Muitos profissionais referenciados na psicanálise têm investido esforços teóricos, práticos e éticos em viabilizar um tratamento mais efetivo às psicoses nos serviços públicos de saúde mental brasileiros, buscando dialogar com o modelo psicossocial de atenção à saúde mental, conforme preconizado pelas diretrizes brasileiras atuais. Esta possibilidade provoca muitas questões e impasses, uma vez que a psicanálise originalmente fundada por Freud não contemplou a prática em instituições e a análise de psicóticos, apesar do próprio Freud tê-las preconizado. A aplicação da psicanálise a essas novas demandas requer, portanto, uma atenção especial. Através da revisão de literatura, especificamente de artigos científicos, o objetivo deste trabalho foi identificar e discutir, a partir do referencial psicanalítico, os principais aspectos que vêm sendo abordados sobre o assunto na produção nacional recente. Encontramos material bastante heterogêneo, que apresenta tanto divergências quanto consensos. As principais divergências entre os autores referem-se à compatibilidade entre o discurso psicanalítico e aqueles discursos provenientes da reforma psiquiátrica. Em relação às convergências, ressalta-se a crítica contundente quanto às práticas que colocam o sujeito em uma posição passiva no tratamento. Nas instituições, há iniciativas individuais e coletivas bem sucedidas de profissionais que aplicam a psicanálise ao tratamento de psicóticos, bem como experiências de montagem institucional a partir deste referencial. Ambas exigem soluções inventivas por parte dos profissionais praticantes da psicanálise para propor alterações técnicas e também teóricas em relação à psicanálise clássica. Há, contudo, um imperativo ético que deve ser mantido: ouvir o sujeito psicótico em suas produções delirantes, valorizando-o como sujeito. Assim, buscamos identificar qual a contribuição da psicanálise para o campo da saúde mental, dando andamento aos impasses colocados por esta nova clínica.