ABSTRACT
A mucosa estomacal é protegida por muco, constituído principalmente por prostaglandinas protetoras. O uso de anti-inflamatórios não esteroidais (AI- NEs) pode provocar gastrite devido à capacidade dos AINEs de inibir a ação da cicloxigenase resultando na não formação de prostaglandinas, tendo como sinais clínicos característicos inapetência, regurgitação ou emese, hemorragias e mele- na ou hematoquezia. Foi atendido um cão da raça Fila mestiço com 10 anos de idade, apresentando, há 10 dias, hiporexia, poliúria e polidipsia. Na anamnese, o tutor relatou que antes do aparecimento dos sinais ele forneceu ao animal fluni- xin meglumine associado à sulfa, dipirona e dimeticona, em dose desconhecida, durante 5 dias, para uma sensibilidade dolorosa nos membros posteriores; e que há cinco dias, administrou um vermífugo (pirantel, praziquantel e ivermectina). O quadro do animal piorou gradativamente e dois dias antes da consulta, o ani- mal tornou-se apático e inapetente, apresentando melena e tremores, entretanto sem a presença de emese. No exame físico, foi averiguado intensa sensibilidade abdominal, aumento dos linfonodos axilares bilaterais, ceratite no olho esquer- do, conjuntivite bilateral, mucosa hipocorada e desidratação de 10%. Imedia- tamente, foi iniciada um tratamento fluidoterápico e exames complementares, porém, o animal veio a óbito duas horas após seu internamento e assim, foi en- caminhado para a realização de necropsia, onde foi observada úlceras extensas na região caudal do esôfago e em toda a mucosa do estômago, confirmando o diagnóstico de gastrite. Diante do histórico do uso de anti-inflamatórios, somada as características das lesões e suas localizações, o diagnóstico conclusivo foi de gastrite iatrogênica por anti-inflamatório não esteroidal (AINES). Conclui-se que o uso indiscriminado de anti-inflamatórios, sem assistência de um médico veterinário, por proprietários pode provocar um quadro de gastrite iatrogênica, podendo levar a morte no caso de atraso a busca de assistência médico veteriná- ria adequada. Apesar das graves lesões apresentadas na necropsia do esôfago e estomago, o animal não apresentava vômito ou regurgitação, sinais comuns em esofagites e gastrites.