ABSTRACT
INTRODUÇÃO: O pós-operatório de cirurgia cardíaca valvar é desafiador pelo risco de sangramento, que pode levar a complicações e aumentar a morbimortalidade do paciente. Logo, avaliar o estado clínico e laboratorial do paciente antes da cirurgia auxilia na previsão do risco de sangramento e mudança de conduta clínica. OBJETIVO: Desenvolver um escore de risco para prever sangramento aumentado em pacientes no pós-operatório de cirurgia valvar. MÉTODOS: Estudo retrospectivo, com 525 pacientes submetidos a cirurgia valvar entre 2021 e 2022 no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. Os pacientes foram divididos em dois grupos: aqueles com sangramento maior e aqueles sem sangramento maior, com base nos critérios de BARC e Bojar. A descrição dos resultados incluiu métodos estatísticos para descrever a frequência e a distribuição dos dados. Foi realizada uma análise de regressão logística para identificar os fatores relacionados ao sangramento, e modelos múltiplos foram utilizados para as variáveis com significância estatística. Pontuações foram atribuídas aos valores relevantes para criar uma escala. O estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa. RESULTADOS: Neste estudo, foram analisados 525 pacientes com idade média de 56 anos, a maioria do sexo feminino. A valvopatia mais comum foi a insuficiência mitral. Cerca de 8,8% dos pacientes apresentaram sangramento aumentado, resultando em 4,3% de reabordagens cirúrgicas. As variáveis que apresentaram significância estatística foram: presença de insuficiência tricúspide (OR = 3,31; P < 0,001), doença renal crônica/lesão renal aguda (OR = 2,97; P = 0,006), hemoglobina pré-operatória (OR = 0,73; P < 0,001), reoperações (OR = 2,5; P = 0,003), tempo de circulação extracorpórea (CEC) (OR = 1,12; P < 0,001). O número de valvas abordadas também foi significativo, com OR de 2,23 (P = 0,013) para 2 valvas e OR de 3,7 (P = 0,028) para 3 valvas. Além disso, o uso de concentrado de hemácias mostrou-se relevante, com OR de 2,8 (P = 0,001). No modelo múltiplo, apenas presença de insuficiência tricúspide, tempo de circulação extracorpórea e hemoglobina pré-operatória estavam associados ao sangramento. CONCLUSÃO: Tempo de CEC, hemoglobina pré-operatória e insuficiência tricúspide se associaram-se independentemente com o sangramento pós-operatório. A escala proposta é plausível e pode auxiliar na predição de risco de sangramento.
Subject(s)
Postoperative Period , Thoracic Surgery , Heart ValvesABSTRACT
Resumo Fundamento: O pós-operatório de cirurgia cardíaca valvar é desafiador devido ao risco de sangramento, levando a complicações e aumento da morbimortalidade. Objetivo: Desenvolver um escore de risco para prever hemorragia em pacientes no pós-operatório de cirurgia valvar. Métodos: Estudo retrospectivo de pacientes submetidos a cirurgia valvar entre 2021 e 2022 no IDPC. Pacientes com sangramento maior foram selecionados com base nos critérios de BARC e Bojar. Foi realizada uma análise de regressão logística para fatores relacionados ao sangramento e foi criado um nomograma. Para significância estatística, foram considerados p<0,05 e um intervalo de confiança de 95%. O estudo foi aprovado pelo CEP. Resultados: Foram analisados 525 pacientes com idade média de 56 anos e predomínio do sexo feminino. A valvopatia mais comum foi a insuficiência mitral, 8,8% apresentaram sangramento aumentado e houve 4,3% de reabordagens cirúrgicas. As variáveis com significância estatística foram: insuficiência tricúspide (OR 3,31, p < 0,001), doença renal crônica/lesão renal aguda (OR 2,97, p = 0,006), hemoglobina pré-operatória (OR 0,73, p < 0,001), reoperações (OR 2,5, p = 0,003), tempo de circulação extracorpórea (CEC) (OR 1,12, p < 0,001), abordagem de 2 valvas OR de 2,23 (p = 0,013), uso de concentrado de hemácias OR de 2,8 (p = 0,001). No modelo múltiplo a insuficiência tricúspide, tempo de CEC e hemoglobina pré-operatória alcançaram significância estatística. Conclusão: O tempo de CEC, hemoglobina pré-operatória e insuficiência tricúspide associaram-se independentemente com hemorragia pós-operatória. A escala proposta é plausível, e pode auxiliar na predição de risco de sangramento.
Abstract Background: The postoperative period of heart valve surgery is challenging due to the risk of bleeding, leading to complications and increased morbidity and mortality. Objective: To develop a risk score to predict bleeding in patients after valve surgery. Methods: Retrospective study of patients operated on between 2021 and 2022. Patients with major bleeding were selected based on the BARC and Bojar criteria. A logistic regression analysis was performed for factors related to bleeding and a nomogram of scores was created. For statistical significance, p<0.05 and a 95% confidence interval were considered. The study was approved by the CEP. Results: 525 patients were analyzed, with a mean age of 56 years and a predominance of females. The most common valve disease was mitral insufficiency, 8.8% had increased bleeding and 4.3% had surgical reoperations. The variables with statistical significance were tricuspid insufficiency (OR 3.31, p < 0.001), chronic kidney disease/acute kidney injury (OR 2.97, p = 0.006), preoperative hemoglobin (OR 0.73, p < 0.001), reoperations (OR 2, 5, p = 0.003), cardiopulmonary bypass (CPB) time (OR 1.12, p < 0.001), 2-valve approach OR of 2.23 (p = 0.013), use of packed red blood cells OR of 2.8 (p = 0.001). In the multiple model, tricuspid insufficiency, CPB time and preoperative hemoglobin reached statistical significance. Conclusion: CPB time, preoperative hemoglobin and tricuspid insufficiency were independently associated with postoperative bleeding. The proposed scale is plausible and can help predict the risk of bleeding.