ABSTRACT
O objetivo desta pesquisa é analisar o conteúdo do discurso de praticantes de ginástica em academias exclusivas para mulheres sobre os motivos dessa prática, com o foco direcionado para as relações que se estabelecem entre esses motivos e o binarismo sexual. Trata-se de um estudo qualitativo. Com base em um roteiro de questões semiestruturado, 23 frequentadoras de três academias de ginástica exclusivas para mulheres situadas no município de Juiz de Fora, Minas Gerais, foram entrevistadas. Concluímos que a motivação das entrevistadas para a prática da ginástica em academias destinadas exclusivamente às mulheres se mostra ancorada, fundamentalmente, na relação que as mesmas estabelecem, direta ou indiretamente, com o homem, em casa (namorados, maridos) e/ou na cena social. Quando comparadas às academias de ginástica mistas, as exclusivas para mulheres emergem como um espaço que pode proporcionar à mulher maior liberdade para: expressar as próprias insatisfações corporais; observar a outra mulher, sem que os sentimentos de competitividade aflorem como em geral afloram no ambiente em que há a presença física do homem; apresentar-se menos assujeitada a padrões corporais de vestimenta e/ou de maquiagem considerados mais belos ou elaborados, inclusive por elas mesmas. Deve-se ainda observar a possibilidade de que nas academias exclusivas as mulheres fiquem mais focadas na exercitação física; pelo fato de sentirem-se mais à vontade, consequentemente, podem se concentrar mais nas práticas e realizar os mais variados movimentos/exercícios sem constrangimentos provocados por olhares invasivos, de homens.
This research aims to analize the speech contents of women who work out at female-only fitness clubs, on the grounds of such a practice, with the focus directed to the relationships established between the reasons for this practice and sexual binarism. This is a qualitative study. Based on a semistructured survey, twenty three women attending three female-only fitness clubs located in the city of Juiz de Fora, Minas Gerais, were interviewed. We have concluded that respondents' motivation to work out at female-only fitness clubs was demonstrated to be primarily anchored in the relationship they have, directly or indirectly, with the man at home (boyfriends, husbands) and / or in the social scenery. When compared to mixed gyms, those exclusively for women emerge as a space which can provide women greater freedom to: express their own body dissatisfaction and watch another woman without giving rise to feelings of competitiveness, as usually happens in environments with men around. They also present themselves less subjected to body patterns regarding dress and / or makeup, which are considered to be more beautiful or elaborate, even if by they themselves. Also noteworthy is the possibility that in female-only fitness clubs, women are more focused on the physical drilling, since they feel more at ease, thereby focusing more on the exercises and performing movements / exercises without the constraints caused by men's invasive glances.