ABSTRACT
lntrodução: a estrongiloidíase tem grande importância médica devido à capacidade de o Strongyloides stercoralis completar seu ciclo de vida no homem e gerar a síndrome de hiperinfecção principalmente em imunocomprometidos. Devido à dificuldade em estruturar a resposta Th2, os pacientes infectados com o Vírus Linfotrópico de Células T Humanas Tipo 1 (HTLV-1) têm maior tendência a apresentar infecção maciça. A leishmaniose visceral, doença relevante em países em desenvolvimento, causa alterações imunológicas semelhantes, porém há poucos relatos de suscetibilidade específica ao Strongyloides stercoralis nos infectados por Leishmania sp. O presente trabalho tem objetivo de relatar um caso de coinfecção HTLV e calazar, que apresentou-se como pancreatite aguda e enteropatia perdedora de proteínas secundárias à estrongiloidíase maciça. Relato de caso: trata-se de um paciente de 34 anos com história de leishmaniose prévia que deu entrada no nosso Serviço com pancreatite aguda idiopática leve, além de história de diarreia crônica há um ano com anasarca e hipoalbuminemia associadas. Apresentou endoscopia digestiva alta com atrofia duodenal importante, tendo sido identificados Strongyloides stercoralis em biópsia, além de sorologia para HTLV positiva. Apresentou translocação bacteriana com sepse grave de foco abdominal, após início do tratamento com ivermectina, tendo posteriormente evoluído com melhora clínica importante e remissão dos sintomas. Fez investigação com punção de medula óssea, em que foram identificadas as formas amastigotas da leishmania. Discussão e conclusão: a presença de HLTV é um fator de risco para a síndrome de hiperinfecção por Strongyloides stercoralis, tendo predisposto o paciente às manifestações graves e raras descritas. A identificação de leishmania na medula óssea, entretanto, é um fator de risco ainda pouco conhecido para estrongiloidíase disseminada, porém com plausibilidade biológica por afetar o sistema imunológico do hospedeiro.(AU)
Introduction: strongyloidiasis has great medical importance because of the ability of the Strongyloides stercoralis to complete its life cycle in man and cause hyperinfection syndrome especially in immunocompromised hosts. Because of the difficulty in triggering The response, Human T-cell lymphotropic virus type 1 (HTLV-1) infected patients has susceptibility for massive infection. Visceral leishmaniasis, a relevant disease in developing countries, causes similar immunological changes, but there are few reports of specific susceptibility to Strongyloides stercoralis on infected by Leishmania sp. This study aimed to report a case of HTLV and kala azar coinfection, presenting as acute pancreatitis and protein losing enteropathy secondary to massive strongyloidiasis. Case report: a 34-year-old patient previously treated for leishmaniasis has presented at our service with idiopathic acute pancreatitis and chronic diarrhea for one year with anasarca and hypoalbuminemia. Upper endoscopy revealed duodenal atrophy in which biopsy identified Strongyloides stercoralis, and HLTV serology was positive. He presented with bacterial translocation and severe sepsis after first dose of ivermectin, but has clinical improvement and remission of symptoms afterwards. Bone marrow aspiration identified amastigote forms of Leishmania. Discussion and Conclusion: the presence of HLTV is a risk factor for Strongyloides stercoralis hyperinfection, and predisposed this patient to the serious and rare events described. The identification of Leishmania in bone marrow, however, is an poorly known risk factor for disseminated strongyloidiasis, but with biological plausibility because it affects the immune system of the host.(AU)
Subject(s)
Humans , Male , Adult , Pancreatitis , Protein-Losing Enteropathies , Strongyloidiasis , Human T-lymphotropic virus 1 , Leishmaniasis, Visceral , Pancreatitis, Acute NecrotizingABSTRACT
JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A estrongiloidíase disseminada é uma entidade clínica relacionada a estados de imunossupressão como os que ocorrem na síndrome da imunodeficiência aguda (SIDA), nas neoplasias hematológicas e nos tratamentos imunossupressores. Sua ocorrência e gravidade são mais freqüentes em pacientes usando elevadas doses de corticosteróides. A estrongiloidíase disseminada se apresenta habitualmente sob a forma de sepse grave. Essa apresentação clínica inespecífica representa grandes desafios relacionados ao diagnóstico e tratamento, resultando em elevada taxa de mortalidade. O diagnóstico depende de elevada suspeição clínica e da identificação da larva em amostras de fluidos ou tecidos. O envolvimento cutâneo é raro, entretanto por ser característico pode incrementar a possibilidade da hipótese diagnóstica. O objetivo deste estudo foi rever na literatura os aspectos clínicos da estrongiloidíase disseminada, destacando os métodos de diagnóstico e tratamento e ressaltar a importância da suspeição clínica para a profilaxia e tratamento adequados. CONTEÚDO: Foi realizada uma busca sistemática nos últimos 30 anos através da PubMed utilizando os termos disseminated strongyloidiasis, strongyloides and hyperinfection e ivermectin. CONCLUSÕES: Recentes avanços ocorreram na área terapêutica e dentre eles destaca-se o uso da ivermectina. O seu surgimento mudou significativamente o tratamento para estrongiloidíase, no entanto a administração por via oral ou enteral desse fármaco representou importante limitação para sua utilização em pacientes com íleo ou estado de hipoperfusão tecidual. Relatos de resultados positivos com o uso de ivermectina parenteral levantaram a possibilidade de essa modalidade terapêutica ser mais eficaz nas formas graves. No entanto questões relativas à posologia e segurança ainda precisam ser elucidadas.
BACKGROUND AND OBJECTIVES: Disseminated strongyloidiasis is a clinical form of presentation associated with states of severe immunosuppression, as in AIDS, hematological malignancies and in treatment for immunosuppression (especially with high doses of corticosteroids). It usually mimics severe sepsis and still brings a significant challenge related to the diagnosis and treatment. Therefore exceedingly high mortality rates remain unchanged in the past decades. Initially, the diagnosis depends on the clinical suspicion and on the identification of the larva in an organic fluids or tissues. The cutaneous involvement, albeit rare, is typical and can provide an important clue for the diagnostic hypothesis. The emergence of ivermectin for oral use changed significantly the treatment for strongyloidiasis; however, there are still shortcomings for the utilization in critically ill patients. Shock, ileus and hypoperfusion states are associated with difficulties in the absorption that result in erratic systemic levels. Reports of good results with parenteral administration of ivermectin raised the prospect that this therapeutic modality be more effective. However, questions about dosage and safety remain unanswered. The aim of the present article is to review the medical literature on the clinical aspects of disseminated strongyloidiasis. CONTENTS: A systematic review of the literature was performed by searching the PubMed database within the last 30 years. Search terms were: disseminated strongyloidiasis, strongyloides and hyperinfection e ivermectin. CONCLUSIONS: The article highlights the diagnostic and therapeutic aspects emphasizing the importance of the clinical suspicion for the institution of appropriated therapy.