ABSTRACT
O câncer de pulmão é reconhecidamente um dos mais agressivos dentre os tumores, com alta letalidade. A detecção precoce do câncer de pulmão com tomografia computadorizada de baixa dose tem sido avaliada em diversos países e implementada em alguns. Entretanto, a implementação do rastreamento com uso dessa tecnologia para detecção precoce de novos casos, permanece questionado no mundo, e no Brasil não está recomendado. Por esse motivo, foi elaborada uma avaliação de custo-efetividade do uso da tomografia computadorizada de baixa dose como estratégia de rastreamento para detecção precoce do câncer de pulmão em população de risco sob a perspectiva do Sistema Único de Saúde como órgão financiador. Inicialmente uma revisão sistemática foi elaborada e descrita uma síntese das diferentes abordagens disponíveis nas avaliações econômicas. Os 30 estudos selecionados e incluídos na revisão mostraram qualidade global, com bom padrão metodológico, que atendeu a mais de 80% dos critérios estabelecidos pelo formulário (Consensus Health Economic Criteria list). A análise da eficiência comparativa entre duas alternativas (anual e bianual) para o diagnóstico precoce de câncer de pulmão, considerando a estratégia de rastreamento com tomografia computadorizada de baixa dose e a conduta clínica sem rastreio, como cenário de referência, teve por base uma coorte hipotética de 100.000 indivíduos assintomáticos, e tabagistas de alto risco. O horizonte temporal considerou a expectativa de vida dos indivíduos, e a perspectiva foi o Sistema Único de Saúde como financiador da assistência à saúde. Apenas os custos médicos diretos dos itens relacionados ao processo de diagnóstico e tratamento foram estimados. O desfecho foi medido em anos de vida ganhos. O desconto de 5% foi aplicado aos custos e benefícios. E realizadas análises de sensibilidade determinística univariada e probabilística. A razão de custo-efetividade incremental da estratégia de rastreamento anual com a tomografia computadorizada de baixa dose para a detecção precoce de câncer de pulmão foi estimada em R$ 97.583,52 por cada ano de vida ganho e de R$ 56.642,20 por ano de vida ganho, com o rastreio a cada dois anos. A análise determinística mostrou que o impacto da redução da incidência de câncer de pulmão, em ambas as alternativas (anual e bianual), chega a gerar quase o triplo dos gastos estimados para a razão de custo-efetividade incremental. Para o anual esse aumento chega a R$ 176.834,47, fora do limiar de R$105.000,00, enquanto o rastreamento bianual, mesmo dobrando os gastos, ainda se manteria dentro do limiar de custo-efetividade atualmente definido para o país. Os demais parâmetros de relevância (sensibilidade do rastreamento para detecção de câncer e a proporção de diagnósticos em estadio I/II com o rastreamento) não impactaram nos resultados finais. A análise probabilística das alternativas de rastreamento mostrou para o rastreamento anual 52% das simulações dentro do limiar estabelecido e 94,2% referente ao bianual. O resultado do modelo econômico mostrou resultados favoráveis com a adoção da estratégia de rastreamento de câncer de pulmão com uso de tomografia computadorizada de baixa dose comparada a condução clínica, realizada a cada dois anos em população de alto risco, sob a perspectiva do SUS. (AU)
Lung cancer is one of the most aggressive tumors, with high lethality. Early detection of lung cancer with low-dose computed tomography has been evaluated in several countries and implemented in some. However, the implementation of screening using this technology for early detection of new cases remains questioned worldwide, but in Brazil, it has not been recommended. Thus, a cost-effectiveness assessment of a screening strategy with low-dose computed tomography for early lung cancer detection in a high-risk population under the Unified Health System perspective as a funding body. First, a systematic review was performed and synthesized the different approaches available in economic evaluations. Thirty studies selected and included in the review showed overall quality, with a well-designed methodological standard, which met more than 80% of the criteria established by the Consensus Health Economic Criteria (CHEC) list form. The analysis of the comparative efficiency between two alternatives (annual and biannual) for the early diagnosis of lung cancer, considering the screening strategy with low-dose computed tomography and the clinical management, without screening, as a reference scenario, was based on a cohort hypothetical 100,000 asymptomatic individuals, and high-risk smokers. The time horizon considered the individuals' life expectancy, and the perspective was the Brazilian Unified Health System as the funder of health care. Only the direct medical costs of items related to the diagnosis and treatment process were estimated. The outcome measure was life years gained. A discount of 5% has been applied to costs and benefits. A deterministic and probabilistic sensitivity analysis has been performed. The incremental cost-effectiveness ratio of the annual screening strategy for early lung cancer detection has been estimated at BRL 97,583.52 for each life-year gained and BRL 56,642.20 per year of life gained, with screening every two years. The deterministic analysis showed that the impact of reducing the incidence of lung cancer, in both alternatives (annual and biannual) generated almost three times the estimated expenses for the incremental cost-effectiveness ratio. For the annual survey, this increase reaches BRL 176,834.47, outside the BRL 105,000.00 threshold, while biannual screening, even doubling the expenses, would remain within the cost-effectiveness threshold currently defined for the country. The other relevant parameters (screening sensitivity for cancer detection and the proportion of stage I/II diagnoses with screening) have no impact on the final results. The probabilistic analysis showed that 52% of simulations within the established threshold correspond to the annual screening, and 94.2% to the biannual. The economic model designed to evaluate the cost-effectiveness of lung cancer screening using low-dose computed tomography compared to clinical care showed favorable results from the strategy performed every two years in a high-risk population, under the SUS perspective. (AU)