ABSTRACT
RESUMO A incorporação da noção de território, no contexto da produção de saúde, apoia-se em uma perspectiva regulada que o informa enquanto um agente passivo, submetido à ação humana. Contudo, quando se aproxima de conceitos orgânicos como a biointeração, observa-se que os fluxos dos agenciamentos operam em direção oposta ao antropocentrismo. Em vista disso, como objetivo, este ensaio pretende expandir a dimensão conferida ao território, na abordagem dos Territórios Sustentáveis e Saudáveis, tomando como fundamento a dimensão territorial na vida quilombola. Adotando o Território de Identidade do Recôncavo como ponto de partida, percebeu-se que ele se porta como um espaço vivo, compartilhado e conectável, que se funde à vida das interlocutoras deste estudo. Seja agenciando identidades ou efeitos terapêuticos, é por meio da sua capacidade de conduzir a relação individuo-território que tanto a vida quanto o processo saúde-doença são deslocados. Concluiu-se que é apenas a partir da recomposição desse arcabouço relacional que será possível orientar a uma produção sustentável da saúde.
ABSTRACT The incorporation of the notion of territory, in the context of health production, is based on a regulated perspective, which informs it as a passive agent, subject to human action. However, when approaching organic concepts such as biointeraction, it is observed that the flows of agencies operate in the opposite direction to anthropocentrism. In view of this, as an objective, this essay intends to expand the territory dimension in the Sustainable and Healthy Territories approach, taking as a basis the territorial dimension in quilombola life. Adopting the Recôncavo Identity Territory as a starting point, it was perceived that it behaves as a living, shared and connectable space, which merges with the lives of the interlocutors of this study. Whether managing identities or therapeutic effects, it is through their ability to manage the individualterritory relationship that both life and the health-disease process are displaced. It was concluded that it is only by recomposing this relational framework that it will be able to guide a sustainable health production.
ABSTRACT
RESUMO Este ensaio discute a dimensão metodológica na pesquisa qualitativa para apoiar movimentos de transição paradigmática da saúde coletiva. Busca refletir sobre limites, necessidades, desafios e avanços que os autores têm construído para trabalhar 'junto com' os territórios, as organizações comunitárias e os movimentos sociais que neles atuam a partir de metodologias sensíveis co-labor-ativas. Um dos objetivos principais dessas metodologias envolve o poder de agência em processos instituintes dos sujeitos que vivem, trabalham e se mobilizam nos territórios, em particular, no reconhecer, validar e apoiar a produção de conhecimentos voltados à transformação social, à luta por direitos, à busca por dignidade e do bem viver. A partir da construção de Territórios Sustentáveis e Saudáveis no contexto de uma agenda marcada por crises socioambientais, propõe-se um resgate da epistemologia com sabedoria que alie dimensões ontológicas, metodológicas, pedagógicas, artísticas e afetivas. Nesse sentido, a transformação social também implica a mudança de um modelo hegemônico de ciência que, em nome da objetividade, exclui sistemas de conhecimentos e experiências nascidas em outras esferas da vida em comunidade, inclusive as tradicionais. Encerra-se com uma breve apresentação de experiências recentes de encontros de saberes e projetos de pesquisa que ilustram as metodologias sensíveis propostas.
ABSTRACT This essay discusses the methodological dimension in qualitative research in supporting movements of paradigmatic transition in public health. It reflects on the limits, needs, challenges and advances that the authors have been building to 'work together' with territories, community organizations and social movements that act within them, based on sensible collaborative methodologies. One of the main objectives of these methodologies involves the power of agency in instituting processes of the subjects who live, work and mobilize within the territories, in particular in recognizing, validating and supporting the production of knowledges aimed at social transformation, the struggle for rights, the search for dignity and well living. From the construction of Sustainable and Healthy Territories in the context of an agenda marked by socio-environmental crises, we propose a retrieval of epistemology with wisdom that combines ontological, methodological, pedagogical, artistic and affective dimensions. In this sense, social transformation also implies changing a hegemonic model of science that, in the name of objectivity, excludes knowledge systems and experiences born in other spheres of community life, including traditional ones. We end with a brief presentation of recent experiences of knowledges encounters and research projects that illustrate the proposed sensible methodologies.
ABSTRACT
RESUMO Neste trabalho, destacam-se aprendizados com pesquisa realizada pelo Núcleo Ecologias e Encontros de Saberes para a Promoção Emancipatória da Saúde (Neepes) em parceria com o Centro de Integração na Serra da Misericórdia (CEM) e o Movimento dos Sem Teto da Bahia (MSTB), que atuam em territórios periféricos no Rio de Janeiro e em Salvador. A pesquisa buscou apoiar e sistematizar conhecimentos e práticas emancipatórias de promoção da saúde protagonizados por essas experiências, tendo por base quatro eixos temáticos transversais: alimentação, cuidado, moradia e proteção ambiental, além de comunicação. No artigo, enfocaram-se as reflexões coletivas em relação ao primeiro eixo temático, envolvendo estratégias para promover agroecologia e soberania alimentar, com experiências de produção, circulação e acesso a alimentos saudáveis. Com base nessas reflexões, visou-se contribuir com discussões sobre Territórios Sustentáveis e Saudáveis (TSS), especialmente pelos aprendizados possibilitados com a sistematização das experiências territoriais com base na noção de Promoção Emancipatória da Saúde, que aponta para importantes aportes nas dimensões de justiça ambiental e cognitiva. Com a sistematização dessas experiências, destaca-se sua capacidade de resistir, a partir de um movimento de reexistência de saberes tradicionais e comunitários em periferias urbanas, que apontam caminhos possíveis para a construção de TSS em periferias urbanas.
ABSTRACT In this work, we highlight lessons learned from research carried out by the Nucleus Ecologies and Encounters of Knowledge for Emancipatory Health Promotion (NEEPES) in partnership with the Center of Integration in Serra da Misericórdia (CEM) and the Movement of Homeless People of Bahia (MSTB), in peripheral territories in Rio de Janeiro and Salvador. The research sought to support and systematize knowledge and emancipatory practices of health promotion carried out by these experiences, based on four transversal thematic axes: food, care, housing and environmental protection, in addition to communication. The article focused on collective reflections on the first thematic axis, involving strategies to promote agroecology and food sovereignty, with experiences of production, circulation, and access to healthy food. Based on these reflections, we aim to contribute to discussions regarding the idea of Sustainable and Healthy Territories (SHT), especially through the lessons learned from the systematization of territorial experiences based on the notion of Emancipatory Health Promotion, which points to important contributions from the dimensions of environmental and cognitive justice. The systematization of these experiences highlights a movement of re-existence of traditional and community knowledge, which points to possible paths for the construction of SHT in urban peripheries.
ABSTRACT
RESUMO A pandemia da covid-19 provocou impactos profundos na sociedade brasileira, mas pouca atenção foi endereçada à determinação socioambiental da saúde de populações periféricas. Este projeto surge nesse contexto com a proposta de identificar desafios e potencialidades do enfrentamento da pandemia e suas consequências em três territórios periféricos e vulnerabilizados do estado do Rio de Janeiro. O edital Inova-TSS foi a oportunidade de desenvolver uma pesquisa que, além de gerar dados, contribuísse para potencializar esses territórios para lidar melhor com esse desafio, contribuindo assim para torná-los mais sustentáveis e saudáveis. Apoiado na Educação Popular e em outras perspectivas dialógicas e participativas, este é um estudo qualitativo que conjugou pesquisa, formação, extensão e estratégias de pesquisa quantitativa, sendo desenvolvido em parceria com cinco movimentos sociais, desde a sua gênese. Por sugestão dessas organizações, a pesquisa foi articulada a uma ação da campanha popular 'Periferia Viva': um curso de Agentes Populares de Saúde oferecido nos mesmos territórios da pesquisa onde essas organizações já atuavam. Este relato de experiência propõe-se a compartilhar desafios e potências do processo constitutivo dessa investigação, que integrou militantes, profissionais da saúde e moradoras(es) das comunidades beneficiadas como pesquisadoras(es) populares, reconhecendo sua condição como sujeitos na produção de conhecimentos.
ABSTRACT The COVID-19 pandemic had profound impacts on Brazilian society, but little attention was paid to the socio-environmental determination of the health of peripheral populations. This project arises in this context, with the proposal to identify challenges and potential in confronting the pandemic and its consequences in three peripheral and vulnerable territories in Rio de Janeiro. The Inova-TSS notice was the opportunity to develop research that, simultaneously to generating data, would contribute to empowering these territories to better deal with this challenge, thus contributing to making them more sustainable and healthier. Supported by Popular Education and other dialogical perspectives, this is a qualitative study that combined research, training, extension and quantitative research strategies, and was developed in partnership with five social movements, since its genesis. At the suggestion of these organizations, the research was linked to an action of the popular campaign 'Periferia Viva', a course for Popular Health Agents offered in the same territories as the research, where these organizations were already operating. This experience report aims to share challenges and strengths of the constitutive process of this investigation, which integrated activists, health professionals, and residents of benefiting communities as popular researchers, recognizing their condition as subjects in knowledge production.
ABSTRACT
RESUMEN Desde experiencias de investigación realizadas desde el año 2018 hasta la actualidad, se problematiza la relación entre sufrimiento ambiental y territorios sustentables. La incertidumbre que conlleva el sufrimiento ambiental, sumado a la falta de evidencia y las dificultades de levantar información científica acerca de la salud del territorio costero e insular, configura un espacio residual propicio para la baja regulación de las industrias y la profundización de sus afectaciones sobre los territorios y sus habitantes. Desde ahí que indagar en las experiencias de sufrimiento ambiental permite aproximarse a las desigualdades socio-ecológicas de la zona marino-costera de la Patagonia chilena y a las estrategias de sus habitantes para proponer y movilizar sus territorios a la sustentabilidad.
ABSTRACT From research experiences carried out from 2018 to the present, the relationship between environmental suffering and sustainable territories is problematized. The uncertainty that environmental suffering entails, added to the lack of evidence and the difficulties to gather scientific information on the health of the coastal and insular territory, configures a residual space conducive to the low regulation of industries and the deepening of their effects on the territories and their inhabitants. From there, inquiring into the experiences of environmental suffering allows us to approach the socio-ecological inequalities of the coastal marine zone of Chilean Patagonia and the strategies of its inhabitants to propose and mobilize their territories to sustainability.
RESUMO A partir de experiências de pesquisa realizadas desde o ano de 2008 até o momento, problematiza-se a relação entre sofrimento ambiental e territórios sustentáveis. A incerteza que acompanha o sofrimento ambiental, somada à falta de evidência e às dificuldades de levantar informações científicas sobre a saúde do território costeiro e insular, configura um espaço residual propício para a baixa regulamentação das indústrias e a intensificação de seus impactos sobre os territórios e seus habitantes. Nesse sentido, investigar as experiências de sofrimento ambiental permite aproximar-se das desigualdades socioecológicas da zona marinho-costeira da Patagônia chilena e das estratégias de seus habitantes para propor e mobilizar seus territórios rumo à sustentabilidade.