RESUMEN
RESUMO: A ingestão de peixes como barracudas, moreias e garoupas pode causar intoxicação por ciguatera, toxina proveniente de microrganismos unicelulares do gênero Gambierdiscus. A ciguatoxina é inodora, insípida e afeta canais de sódio e potássio, provocando neurotoxicidade e cardiotoxicidade. Sintomas neurológicos e gastrointestinais são mais comuns, enquanto as manifestações cardiovasculares, como bradicardia, arritmia e hipotensão, são geralmente transitórias. Relatamos um caso raro de bradicardia grave e miocardite associadas à ciguatera. RELATO DE CASO: Paciente masculino, 64 anos, maratonista, foi admitido em hospital em Fernando de Noronha após ingestão de peixe de pesca local, com diarreia volumosa, sudorese, parestesia, vertigem e lipotimia. Apresentava bradicardia (23 bpm) e instabilidade hemodinâmica, sendo necessária atropina e hidratação. Após três dias, recebeu alta com FC de 40-45 bpm. Procurou atendimento em Brasília por tontura, bradicardia sinusal persistente (34 bpm) e alterações da repolarização ventricular. O ecocardiograma mostrou aumento biatrial e fração de ejeção limítrofe, com hipocinesia inferolateral. Aressonância magnética (RMC) mostrou realce mesoepicárdico compatível com miocardite aguda (mapa T2 alterado), e o holter indicou bradicardia (FCm 40 bpm). Após 9 dias de internação, os sintomas se resolveram. Em reavaliação, apresentou FC média de 60 bpm, mas foram observadas 2.748 extra-sístoles ventriculares polimórficas isoladas, sequela da miocardite, que causou 3,5% de fibrose no ventrículo. Aangiotomografia revelou placa com estenose de 20%, sem calcificações. O paciente segue em acompanhamento, sem novas intercorrências. Sua esposa, que compartilhou a mesma alimentação, também apresentou sintomas, mas não necessitou atendimento hospitalar. CONCLUSÃO: Aciguatera é uma doença pouco conhecida e subdiagnosticada. Este caso destaca a importância dessa hipótese diagnóstica em pacientes com déficit cronotrópico após viagem a regiões endêmicas. A RMC foi essencial para o diagnóstico de miocardite e para a recomendação de evitar esforço por 6 meses, prevenindo arritmias e óbito. Foi realizada notificação à Secretaria de Saúde para orientar a população de Fernando de Noronha e turistas.