Mulheres negras em situação de rua: da invisibilidade social a barreiras de acesso para o cuidado efetivo em saúde / Black women living on the streets: from social invisibility to access barriers to effective health care

Objetivo: Investigar como se dá o direito ao acesso das Mulheres em Situação de rua aos serviços de saúde. Método: Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de caráter exploratório, tendo sua análise baseada no método hermenêutico dialético. Como instrumentos para a coleta de dados, utilizamos a entrevista estruturada e informal, realizadas em várias ambiências da rua, como calçadas, praças, rotatórias, embaixo de viaduto e em frente igrejas. Resultados: o perfil sociodemográfico, apresenta um total de 29 mulheres encontradas no território, fato que refuta os argumentos dos profissionais da saúde e assistência social que afirmavam ser difícil localizar e identificar as mulheres em situação de rua do território. A raça/cor predominante é a negra (pretas + pardas), com idade entre 30 a 49 anos. Encontramos dois perfis de mulheres em situação de rua: as que não possuem casa e vivem nas ruas ou centros de acolhida e as que residem em ocupações e territórios vulneráveis, estando em situação de rua por um período com filhos e companheiros, utilizando a rua como recurso para subsistência e sobrevivência. Os vínculos familiares fragilizados correspondem o maior motivo para o afastamento familiar, seguido pela violência, abandono, sofrimento mental e uso de álcool e outras drogas. Conclusão: O acesso a saúde recebe um status secundário, pois, estar na rua as coloca em um estado constante de alerta, insegurança física comprometendo a saúde mental. É sobre viver e sobreviver, num ambiente em que o machismo não encontra barreiras e as ações violentas, de submissão e risco da integridade física, sexual, psicológica está instaurada. Apesar de não ter muros, a rua compõe um ambiente hostil, onde é possível sentir quando se cruza uma fronteira determinada por quem está ou não está em situação de rua. O acesso aos serviços de saúde existe e o local de cuidado é a urgência. Identificam as unidades básicas de saúde enquanto espaço de atendimento à saúde da mulher, vacinação e odontologia, porém, não é reconhecido como um serviço de apoio.

Mulheres negras em situação de rua: colonialidade e acesso à saúde / Black women on the streets: coloniality and access to health

Em quais bases se amparam as respostas que justificam a presença de corpos negros serem maioria em situação de rua? E de que forma afetam o acesso aos cuidados em saúde de mulheres, maiorias negras, em situação de rua? Temos por objetivo discutir acerca das expressões da colonialidade no processo de exclusão social no acesso à saúde das mulheres negras em situação de rua, a partir da experiencia profissional no Consultório na Rua. Desse modo, apresentaremos dois desdobramentos da colonialidade, a desumanização do corpo negro e o racismo, práticas que naturalizam o não reconhecimento do corpo feminino, majoritariamente negro nas ruas, enquanto merecedor de atenção e cuidado em saúde.

Mulheres negras em situação de rua: da invisibilidade social a barreiras de acesso para o cuidado efetivo em saúde: resumo executivo / Homeless black women: from social invisibility to access barriers to effective health care: executive summary

A situação de rua é um fenômeno mundial, que atinge principalmente os grupos minoritários compostos por afro-americanos, hispânicos, índios americanos e nativos. No Brasil esse fenômeno atinge majoritariamente os negros, constatação que nos faz reconhecer que as bases das iniquidades e injustiças sociais que acometem a população em situação de rua têm sus sustentação no racismo estrutural e sua prática no racismo institucional. Ser mulher em situação de rua, implica lidar com o machismo que reflete em todas as dimensões de suas vidas e relações sociais, atuando no controle de seus corpos, repercutindo inclusive na sua mobilidade e direito de ir e vir, incluindo o cuidado efetivo em saúde.