RESUMO
Introdução: A sinergia das pandemias de obesidade, desnutrição e mudanças climáticas, conhecida como Sindemia Global (SG), demonstra o papel crítico dos sistemas alimentares nos principais desafios contemporâneos da saúde global. Sua superação requer instrumentos de múltiplo impacto que incidam sobre seus determinantes fundamentais e fatores sistêmicos impulsionadores. Diferentes concepções do problema e propostas de soluções mobilizam conceitos complexos e polissêmicos na disputa por espaço e recursos. O crescente envolvimento de corporações multinacionais nos mecanismos de governança global dos sistemas alimentares suscita debates visto que interesses comerciais são um dos principais fatores sistêmicos impulsionadores da SG. Objetivo: avançar na compreensão dos Guias Alimentares para Populações (GAP) como instrumentos de indução de políticas para que sistemas alimentares sejam social, econômica e ambientalmente sustentáveis e promotores de saúde no contexto da SG. Metodologia: com a combinação de revisão da literatura e pesquisa qualitativa foram elaborados três artigos. O primeiro mobilizou a revisão da literatura, a análise documental e a observação participante para refletir sobre as dinâmicas entre os principais atores do sistema alimentar no enfrentamento da SG, com atenção à relação entre mecanismos de governança econômica global e dos sistemas alimentares. O segundo mobilizou a revisão da literatura para identificar e adaptar um quadro para análise qualitativa da integração da sustentabilidade - em todas as suas dimensões - em GAPs. O terceiro mobilizou o quadro de análise produzido no segundo artigo para comparar a amplitude e a profundidade com que os GAPs de países selecionados trabalham a sustentabilidade à luz dos determinantes fundamentais e fatores sistêmicos impulsionadores da SG. Resultados: Desde a crise econômica de 2008 observa-se maior envolvimento de atores ligados à governança econômica nos mecanismos de governança global sobre sistemas alimentares. Isso torna ainda mais complexa a disputa de concepções sobre os desafios dos sistemas alimentares e as propostas de soluções. Nesse contexto, o quadro adaptado configura-se como uma ferramenta valiosa para pesquisadores, formuladores de políticas e sociedade civil. Ele fornece um método concreto para avaliar se os GAPs abordam adequadamente todas as dimensões da sustentabilidade e maximizam seu potencial como instrumento de política de múltiplos impactos para enfrentar a SG. Esse quadro de análise também pode orientar processos de revisão e formulação de GAPs. O estudo evidenciou que dada a conjuntura marcada pela disputa de narrativas, o aprofundamento da integração da sustentabilidade pode oferecer um marco de referência inequívoco para adoção de medidas estruturais que alterem as condições sistêmicas que permitem que a SG prospere. Sugere também que quanto mais profunda a integração da sustentabilidade em um GAP, menores as margens para que grandes corporações disputem interpretações que favoreçam os interesses comerciais, não o bem comum. Conclusões: Este estudo demonstra que os GAPs, além de ferramentas de educação alimentar e nutricional, são instrumentos cruciais que refletem a perspectiva de um país sobre seu sistema alimentar e têm o potencial de influenciar políticas públicas para a sustentabilidade desses sistemas. No entanto, para cumprir efetivamente esse papel, os GAPs devem abordar de forma ampla e profunda todas as dimensões e subdimensões da sustentabilidade.
Introduction: The synergy of obesity, undernutrition, and climate change pandemics, known as the Global Syndemic (GS), demonstrates the critical role of food systems in the major contemporary challenges of global health. Overcoming it requires multi-impact instruments that address its fundamental determinants and systemic drivers. Different conceptions of the problem and proposed solutions mobilize complex and polysemous concepts in the dispute for space and resources. The growing involvement of multinational corporations in global food system governance mechanisms raises debates as commercial interests are one of the main systemic drivers of the GS. Objective: To advance the understanding of Dietary Guidelines for Populations (DGPs) as policy instruments to induce food systems to be socially, economically, and environmentally sustainable and health-promoting in the context of the GS. Methodology: Combining literature review and qualitative research, three papers were developed. The first mobilized literature review, document analysis, and participant observation to reflect on the dynamics between the main food system actors in addressing the GS, with attention to the relationship between global economic and food system governance mechanisms. The second mobilized literature review to identify and adapt a framework for qualitative analysis of sustainability integration - in all its dimensions - in DGPs. The third mobilized the analysis framework produced in the second paper to compare the breadth and depth with which DGPs from selected countries address sustainability in light of the GS's fundamental determinants and systemic drivers. Results: Since the 2008 economic crisis, there has been greater involvement of actors linked to economic governance in the global governance of food systems. This makes the dispute over conceptions of food system challenges and proposed solutions even more complex. In this context, the adapted framework is a valuable tool for researchers, policymakers, and civil society. It provides a concrete method for assessing whether DGPs adequately address all dimensions of sustainability and maximize their potential as a multiimpact policy instrument to address the GS. This analysis framework can also guide DGP review and formulation processes. The study evidenced that given the conjuncture marked by the dispute of narratives, the deepening of sustainability integration can offer an unequivocal reference framework for adopting structural measures that alter the systemic conditions that allow the GS to thrive. It also suggests that the deeper the integration of sustainability into a DGP, the smaller the margins for multinational corporations to dispute interpretations that favor commercial interests, not the common good. Conclusions: This study demonstrates that DGPs, in addition to food and nutritional education tools, are crucial policy instruments that reflect a country's perspective on its food system and have the potential to influence public policies for the sustainability of these systems. However, to effectively fulfill this role, DGPs must comprehensively and deeply address all dimensions and subdimensions of sustainability.
Assuntos
Mudança Climática , Saúde Global , Desnutrição , Guias Alimentares , Sistema Alimentar Sustentável , Obesidade , Economia , Governança em Saúde , SindemiaRESUMO
We assessed the cost-effectiveness of the cost center of milk production and identified the components that most affect final costs, estimating a break-even point (kg milk year-¹) as well. The data were collected in a freestall full-confinement system of a dairy cattle farm located in southern Minas Gerais State (Brazil), from January 2016 to December 2017. The cost of milk production was estimated using a method based on the operating and total costs from a cost center involving lactating and dry dairy cows. The cost center of milk production showed to be economically feasible, showing positive gross and net margin results, as well as positive profitability and cost-effectiveness. Total environmental operating cost was on average R$ 0.015 per kg milk, which represented 1.985% of the total operating cost. Effective environmental operating cost was on average R$ 0.0059, which corresponded to 0.7788% of the total operating cost. Finally, total environmental cost was on average R$ 0.0317, representing 3.3280% of the total cost. The most representative items of the effective operating cost were in descending order: animal feed, workforce, animal health, animal production hormone (bovine somatotropin; bST), vehicle maintenance, machines and equipment, maintenance of improvements, electricity, and freestall bedding sand. Average break-even point was 1,104,038.54 kg milk year-¹ or 3,024.76 kg milk day-¹, while average production was 4,271,383.00 kg milk year-¹ and 11,702.42 kg milk day-¹.(AU)
Objetivou-se analisar o impacto econômico da adoção de algumas tecnologias ambientalmente corretas no custo de produção do leite e na rentabilidade de um sistema de produção, bem como estimar o custo ambiental e a sua representatividade no custo operacional efetivo, no custo operacional total e no custo total. Especificamente, pretendeu-se, ainda, analisar a rentabilidade do centro de custo produção de leite, identificar os componentes que exercem maiores representatividades sobre os custos finais da atividade e estimar o ponto de equilíbrio (kg de leite ano-¹). Os dados foram coletados no período de janeiro de 2016 a dezembro de 2017 em um sistema de produção de leite localizado ao Sul de Minas Gerais, em confinamento total, do tipo freestall. O custo de produção do leite foi estimado segundo a metodologia do custo operacional e custo total, considerando o centro de custo produção de leite, que envolveu as vacas em lactação e as secas. O centro de custo leite apresentou viabilidade econômica, com margens bruta e líquida, bem como resultado positivo, assim como lucratividade e rentabilidade positivas. O custo ambiental operacional total médio de um quilograma de leite foi estimado em R$ 0,015 e representou 1,985% do custo operacional total; o custo operacional efetivo ambiental médio foi de R$ 0,0059, e correspondeu a 0,7788% do custo operacional total; enquanto que o custo ambiental total médio, estimado em R$ 0,0317, representou 3,3280% do custo total. Os itens componentes do custo operacional efetivo que exerceram maiores representatividades foram, em ordem decrescente, a alimentação, mão-de-obra, sanidade, hormônio produtivo (BST), manutenção de veículos, máquinas e implementos, manutenção de benfeitorias, energia e areia para cama do free stall. O ponto de equilíbrio médio foi estimado em 1.104.038,54 kg de leite ano-¹, ou 3.024,76 kg de leite dia-¹, enquanto que a produção média foi de 4.271.383,00 kg de leite ano-¹ e 11.702,42 kg de leite dia-¹.(AU)
Assuntos
Indústria de Laticínios/economia , Indústria de Laticínios/normas , Custos e Análise de Custo , LeiteRESUMO
We assessed the cost-effectiveness of the cost center of milk production and identified the components that most affect final costs, estimating a break-even point (kg milk year-¹) as well. The data were collected in a freestall full-confinement system of a dairy cattle farm located in southern Minas Gerais State (Brazil), from January 2016 to December 2017. The cost of milk production was estimated using a method based on the operating and total costs from a cost center involving lactating and dry dairy cows. The cost center of milk production showed to be economically feasible, showing positive gross and net margin results, as well as positive profitability and cost-effectiveness. Total environmental operating cost was on average R$ 0.015 per kg milk, which represented 1.985% of the total operating cost. Effective environmental operating cost was on average R$ 0.0059, which corresponded to 0.7788% of the total operating cost. Finally, total environmental cost was on average R$ 0.0317, representing 3.3280% of the total cost. The most representative items of the effective operating cost were in descending order: animal feed, workforce, animal health, animal production hormone (bovine somatotropin; bST), vehicle maintenance, machines and equipment, maintenance of improvements, electricity, and freestall bedding sand. Average break-even point was 1,104,038.54 kg milk year-¹ or 3,024.76 kg milk day-¹, while average production was 4,271,383.00 kg milk year-¹ and 11,702.42 kg milk day-¹.
Objetivou-se analisar o impacto econômico da adoção de algumas tecnologias ambientalmente corretas no custo de produção do leite e na rentabilidade de um sistema de produção, bem como estimar o custo ambiental e a sua representatividade no custo operacional efetivo, no custo operacional total e no custo total. Especificamente, pretendeu-se, ainda, analisar a rentabilidade do centro de custo produção de leite, identificar os componentes que exercem maiores representatividades sobre os custos finais da atividade e estimar o ponto de equilíbrio (kg de leite ano-¹). Os dados foram coletados no período de janeiro de 2016 a dezembro de 2017 em um sistema de produção de leite localizado ao Sul de Minas Gerais, em confinamento total, do tipo freestall. O custo de produção do leite foi estimado segundo a metodologia do custo operacional e custo total, considerando o centro de custo produção de leite, que envolveu as vacas em lactação e as secas. O centro de custo leite apresentou viabilidade econômica, com margens bruta e líquida, bem como resultado positivo, assim como lucratividade e rentabilidade positivas. O custo ambiental operacional total médio de um quilograma de leite foi estimado em R$ 0,015 e representou 1,985% do custo operacional total; o custo operacional efetivo ambiental médio foi de R$ 0,0059, e correspondeu a 0,7788% do custo operacional total; enquanto que o custo ambiental total médio, estimado em R$ 0,0317, representou 3,3280% do custo total. Os itens componentes do custo operacional efetivo que exerceram maiores representatividades foram, em ordem decrescente, a alimentação, mão-de-obra, sanidade, hormônio produtivo (BST), manutenção de veículos, máquinas e implementos, manutenção de benfeitorias, energia e areia para cama do free stall. O ponto de equilíbrio médio foi estimado em 1.104.038,54 kg de leite ano-¹, ou 3.024,76 kg de leite dia-¹, enquanto que a produção média foi de 4.271.383,00 kg de leite ano-¹ e 11.702,42 kg de leite dia-¹.