RESUMO
Introdução: O câncer de pulmão passou de uma doença rara no início do século XX para a neoplasia mais letal em todo o mundo. A maioria dos casos são diagnosticados em estágios avançados e somente cerca de 25% desses doentes são passíveis de tratamento cirúrgico no momento do diagnóstico. A cirurgia continua sendo a melhor chance de cura para o câncer de pulmão não pequenas células (CPNPC), variando suas taxas de sucesso conforme o estádio da doença. Apesar dos avanços no tratamento e detecção precoce, os pacientes submetidos a tratamento definitivo para o CPNPC permanecem em risco de recorrência ou de aparecimento de segundo câncer primário de pulmão. O risco de recorrência é estimado entre 2% e 3% por ano, por paciente, e entre 1% a 4% por ano para o aparecimento de segunda neoplasia primária de pulmão. Ainda não há consenso sobre o melhor modo de seguir esses pacientes depois de terminado o tratamento oncológico. As maiores divergências se referem a quais exames devem ser realizados e o intervalo de tempo. Objetivo Principal: Avaliar o impacto da tomografia computadorizada do tórax no seguimento de pacientes operados por câncer de pulmão de células não pequenas, na detecção de recidiva ou segunda neoplasia primária de pulmão. Materiais e métodos: Foram estudados pacientes do A.C.Camargo Cancer Center com diagnóstico de neoplasia maligna primária do pulmão, submetidos à ressecção cirúrgica completa no período de 2007 a 2015. Avaliadas todas as consultas de seguimento, quantas tomografias de tórax (TC) os pacientes realizaram e se apresentaram alterações. Os pacientes foram classificados em quatro grupos: recidiva sistêmica e locorregional da neoplasia pulmonar; segunda neoplasia primária de pulmão; segunda neoplasia primária extrapulmonar e ausência de neoplasia. Resultados: A idade mediana foi de 67 anos e a maioria eram homens (56,1%) e tabagistas (61,5%). O tipo histológico predominante foi o adenocarcinoma (67,3%) e a cirurgia mais realizada foi a lobectomia (67,6%). A maioria dos pacientes encontrava-se no estágio IA (53,4%) e algum tipo de tratamento adjuvante foi realizado em 41 pacientes (27,7%). O tempo mediano de seguimento foi de 40,1 meses. Foram identificados 65 pacientes (43,9%) com exame suspeito para recidiva ou segunda neoplasia primária sendo a maioria deles assintomáticos. Desses pacientes, 53 (81,5%) tiveram a tomografia de tórax como o exame suspeito. Em 51 pacientes (78,4%) a suspeita foi detectada na consulta de rotina. No desfecho, encontramos 26 pacientes (40%) com recidiva da doença; 17 pacientes (26%) com segunda neoplasia primária de pulmão; 10 pacientes (15%) com segunda neoplasia primária extrapulmonar e 12 pacientes (18%) sem neoplasia. Com relação ao número de tomografias realizadas, evidenciamos que 73,4% dos pacientes realizaram menor número de tomografias do que estabelecido pelo nosso protocolo de seguimento. Entretanto, o fato de realizar menos tomografias do que o preconizado não interferiu na sobrevida global (p=0,08). Conclusões: O presente estudo mostra que alterações na TC de tórax foram os primeiros sinais de recidiva e principalmente de segundas neoplasias primarias do pulmão. A maioria desses pacientes era assintomática, demostrando importância na realização do exame no seguimento. Houve uma tendência maior para o não cumprimento do protocolo da instituição quanto à periodicidade, porém isso não demonstrou impacto na sobrevida (AU)
Introduction: Lung cancer has gone from a rare disease in the early 20th century to the most lethal neoplasm worldwide. Most cases are diagnosed in advanced stages and only about 25% of these patients are eligible for surgical treatment at the time of diagnosis. Surgery remains the best chance of cure for non-small cell lung cancer, with varying success rates depending on the stage of the disease. Despite advances in treatment and early detection, patients undergoing definitive treatment for non-small cell lung cancer (NSCLC) remain at risk for recurrence and second primary lung cancer. The risk of recurrence is estimated between 2% and 3% per year per patient and between 1% and 4% per year for the appearance of second primary lung cancer. Currently, there is no consensus in the literature on the best way to follow these patients. The greatest divergences concern which exams should be performed and the time interval. Main Objective: To evaluate the impact of computed tomography of the thorax on the follow-up of patients operated by non-small cell lung cancer, in the detection of recurrence or second primary lung cancer. Materials and Methods: We studied patients from the AC Camargo Cancer Center with diagnosis of primary malignant cancer of the lung who underwent complete surgical resection in the period from 2007 to 2015. All follow-up consultations were evaluated, how many chest tomograms were performed and whether there were changes. Patients were classified into four groups: systemic and locoregional recurrence of pulmonary neoplasia; second primary lung cancer; second extrapulmonary primary neoplasia and absence of neoplasia. Results: The median age was 67 years and the majority were men (56.1%) and smokers (61.5%). The predominant histological type was adenocarcinoma (67.3%) and pulmonary lobectomy (67.6%). The majority of patients were in stage IA (53.4%) and some type of adjuvant treatment was performed in 41 patients (27.7%). The median follow-up time was 40.1 months. Sixty-five patients (43.9%) were identified with suspicious examination for relapse or second primary cancer, the majority of them being asymptomatic. Of these patients, 53 (81.5%) had the chest tomography as the suspicious examination. In 51 patients (78.4%) the suspicion was detected at the routine appointment. In the endpoint, we found 26 patients (40%) with recurrence of the disease; 17 patients (26%) with second primary lung cancer; 10 patients (15%) with second extrapulmonary primary cancer and 12 patients (18%) without cancer. Regarding the number of CT scans, 73.4% of the patients performed a number below that established by the institution's follow-up protocol, but this did not influence overall survival (p = 0.08). Conclusions: The present study shows that changes in chest CT were the first signs of relapse and mainly of second primary lung cancer. Most of these patients were asymptomatic, showing importance in the follow-up examination. There was a greater tendency for noncompliance with the institution's protocol regarding periodicity, but this did not show an impact on survival (AU)