RESUMO
INTRODUÇÃO: Doença de Fabry (DF) é uma doença de depósito lisossomal causada pela mutação do gene GLA do cromossomo X, que codifica a enzima α-galactosidase A. Como consequência, há acúmulo progressivo de glicoesfingolipídeos em diversos tecidos, dentre eles pele, rins, coração, sistema nervoso e endotélio vascular. Descrevemos o caso clínico de um paciente (p) jovem com diagnóstico de DF e sua resposta terapêutica após18 meses de terapia de reposição enzimática (TRE). RELATO DE CASO: p masculino, 24 anos.Aos 8 anos de idade iniciou quadro de acroparestesia, hipoidrose e dores em queimação em ambos os pés, que se manifestavam ao praticar atividades físicas. Aos 10 anos de idade, as dores progrediram para as mãos e despertaram-se crises de dores, associadas à fadiga e sensação de hipertermia. Aos 15 anos, surgiram angioqueratomas difusos na cintura pélvica, mãos, braços, costas e joelhos. O diagnóstico de DF foi confirmado aos 22 anos de idade, com a positividade da variante patogênica c.334C>T no gene GLA. Ao diagnóstico, o eletrocardiograma constatou distúrbio de condução de ramo direito, ecocardiograma e ressonância magnética normais. Antes do início da TRE, o paciente apresentou dosagem do biomarcador liso Gb-3 de 25,7ng/ml (valor de referência: < 2,0ng/ml). Instituiu-se a TRE com infusões intravenosas quinzenais de 1mg/kg de beta-agalsidase.Após nove meses de terapia, nova dosagem do liso Gb-3 reduziu para 10,9 ng/ml.Após 18 meses do início da TRE, o p observou diminuição da intensidade das dores, fadiga e frequência das crises de fabry, com melhora da qualidade de vida.Todavia, mantém o avanço de angioqueratomas e microalbuminúria, em uso de inibidor de enzima conversora de angiotensina. CONCLUSÃO: relatamos um caso com retardo diagnóstico de 14 anos, apesar de consultas médicasfrequentes. Contudo, o diagnóstico e o início da TRE ocorreram antes da instalação de alterações cardíacas e renais bem estabelecidas. A TRE foi associada à importante melhora sintomática e à redução significativa do biomarcador liso Gb-3, de 25 para 10ng/ml. Apesar da melhora clínica, ainda continuam a ocorrer crises de dor, aparecimento de novos angioqueratomas e microalbuminúria. Com diagnóstico na infância, possivelmente os sintomas poderiam ter sido aliviados antecipadamente e a microalbuminúria provavelmente prevenida, o que reforça a importância do conhecimento da doença de Fabry para o sucesso terapêutico precoce.
Assuntos
Humanos , Masculino , AdultoRESUMO
INTRODUÇÃO: Doença de Fabry (DF) é uma patologia rara de depósito lisossomal causada por mutação do gene GALA na região Xq22.1 do cromossomo X que codifica a enzima α-galactosidase A (α-GAL). Trata-se de um erro inato do metabolismo que causa acúmulo progressivo de glicoesfingolipídeos não clivados principalmente em locais como pele, rins, coração, sistema nervoso, endotélio vascular e olhos. Descrevemos o caso de um paciente com a forma clássica da doença com investigação genética da família negativa. RELATO DE CASO: masculino, 22 anos, aos 8 anos de idade apresentou quadro de dores em queimação e pontada em região de metatarso bilateral, com intensidade 6/10 pela escala visual analógica (EVA), associado a acroparestesia, que surgia ao praticar exercícios físicos, e hipoidrose generalizada. Aos 10 anos de idade, as dores também acometiam as mãos, com intensidade maior (EVA 8/10), desencadeadas por febre, ansiedade e exposição ao calor. Nesse mesmo período, passaram a ocorrer crises episódicas de dores excruciantes, intensidade EVA 10/10, juntamente com acroparestesia intensificada, fadiga extrema, sensação de hipertermia em região abdominal, torácica e cervical, e extremidades frias, com duração de horas a dias. Aos 15 anos, apresentou alterações do hábito intestinal e angioqueratomas difusos na cintura pélvica, com progressão lenta para mãos, braços, tronco, costas, joelhos e mucosa oral. Seu diagnóstico só foi confirmado aos 22 anos de idade, com a atividade de α-GAL de 0 mcmol/L/h e presença de variante patogênica no gene GLA, c.334C>T. Mãe e única irmã do paciente não apresentaram esta variante. ECG, ECOTT e RNM de coração não evidenciaram alterações. CONCLUSÃO: Em todas as doenças raras, o diagnóstico tardio é a regra, pelo desconhecimento da doença. No caso relatado, apesar do diagnóstico ter sido feito após 14 anos do início dos sintomas, ainda não estavam presentes complicações bem estabelecidas, como comprometimento cardíaco e renal, favorecendo o sucesso do tratamento de reposição enzimática. A ausência da mesma variante patogênica em sua mãe faz o diagnóstico de uma mutação primária "de novo".