RESUMO
O bócio difuso tóxico, a oftalmopatia e o mixedema pré-tibial constituem a tríade clássica da doença de Graves. A inexistência de um modelo animal, além do difícil acesso aos tecidos-alvos, torna complexa a investigaçao etiopatogênica da oftalmopatia. Existem fortes evidências de que a oftalmopatia de Graves está intrinsecamente ligada ao processo auto-imune da tireóide. Porém o mecanismo de sua patogênese continua obscuro. Nao se encontraram ainda auto-anticorpos específicos e nem uma predisposiçao imunogenética consistente com a presença da oftalmopatia. Além disso, a participaçao de auto-antígenos tem sido de difícil comprovaçao, embora uma candidata provável seja a proteína 72 KDa, presente nas células foliculares da tireóide. Parece, contudo, que o mecanismo patogênico primário na oftalmopatia seria a estimulaçao de fibroblastos, resultante de citocininas linfocitárias. O fato de o acometimento do tecido conjuntivo limitar-se primariamente à órbita e à regiao pré-tibial ainda nao foi esclarecido. Uma provável explicaçao seria a possibilidade de os fibroblastos nessas regioes diferirem fenotipicamente dos fibroblastos de outras regioes. A oftalmopatia está presente clinicamente em 25 por cento a 50 por cento dos pacientes com doença de Graves e hipertireoidismo, ocorrendo ocasionalmente na tireoidite de Hashimoto e raramente na doença de Plummer e no bócio multinodular tóxico. Embora muitos pacientes com hipertireoidismo de Graves nao apresentem evidências clínicas de oftalmopatia, o uso de métodos diagnósticos por imagem - como, p.ex., ultra-sonografia, tomografia computadorizada e a ressonância magnética da órbita - comprova o envolvimento ocular na maioria dos pacientes. Outra importante observaçao é que aproximadamente 10 por cento dos pacientes com oftalmopatia nao apresentam hipertireoidismo, embora a maioria apresente evidências laboratoriais de doença auto-imune da tireóide (anticorpo antiperoxidase ou anticorpo anti-receptor TSH). Em adiçao, existe uma relaçao direta entre o início do hipertireoidismo e da oftalmopatia. Independente de qual comece primeiro, o outro se desenvolverá em 18 meses em 85 por cento dos pacientes afetados 10). Achados histopatológicos do tecido orbitário dos pacientes com oftalmopatia de Graves sugerem dois mecanismos patológicos (5,l1):1.Processo inflamatório da musculatura extra-ocular, com infiltrado linfocitário e edema. 2.Proliferaçao dos tecidos adiposo e conjuntivo. Sisson (l5), através de cultura de fibroblastos retroorbitários, demonstrou que linfócitos de pacientes com oftalmopatia de Graves podem estimular a síntese de glicosaminoglicans. Além disso, também foi observado que imunoglobulinas de pacientes com oftalmopatia podem estimular essa mesma síntese. Bolonkin et al.(4) demonstraram a presença de receptor de TSH no tecido retroorbitário, sugerindo que anticorpos estimulantes da...