RESUMO
Este artigo tem como objetivo explorar os limites e possibilidades de atuação de um serviço ambulatorial público de saúde mental que possui um modelo assistencial e características organizacionais não previstos no desenho preconizado pela Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e que atravessava à época da pesquisa um (in)tenso cenário político, simultaneamente produto e produtor de um processo de precarização e sucateamento da rede de saúde municipal. Este fator foi disparador do levante à época, promovido pelo Fórum de Trabalhadores de Saúde Mental. Temse como base a construção e narrativa do cenário e das relações estabelecidas entres os atores que o compunham, tanto neste serviço, quanto na relação deste com outros dispositivos, a gestão e o fórum de trabalhadores, para conseguir expressar a articulação psicossocial existente e necessária. Além de traduzir/contar sobre o serviço e o trabalho realizado, estabelecendo pontes entre o individual/singular, o coletivo e o institucional. Realizou-se uma aposta metodológica com base na psicossociologia de base psicanalítica. Os principais resultados são quatro elementos emergentes de análise: processos grupais e intersubjetivos; vínculo e reconhecimento; crise e sofrimentos nas instituições; e criatividade. Forças destrutivas se manifestaram de forma contundente com a substituição em massa dos trabalhadores, a asfixia da rede pela falta de insumos / recursos gerais e pela dificuldade de parte dos trabalhadores criarem um lugar novo para si. Constatou-se que apesar do cenário, a singularidade do serviço permitiu a produção de práticas cuidadoras cuja pertinência de manutenção na rede deve ser melhor avaliada.
This article aims to explore the limits and possibilities of performance of a public mental health service that has an assistant profile different from that established by Psychosocial Care Network regulations, and that was going through an intense political scenario of precariousness and scrapping of the health network at the time of the research triggering the uprising of the Mental Health Workers Forum in the municipality, which forms an important element in the research. It is based on the construction and narrative of the scenario, on the relationships established between the actors that composed it, both in the service in question, and in its relationship with other devices, the management, and the workers' forum, so that they can express the existing and necessary psychosocial articulation, besides interpreting/telling about the service and the work done there, establishing bridges between the individual/singular, the group, and the institutional. A methodological bet was made based on psychoanalytical psychosociology. The main results are four emerging elements of analysis: group and intersubjective processes; alliance, and recognition; crisis, and suffering in institutions; creativity; and wholeness. Destructive forces have taken place with the mass replacement of workers, the choke of the network due to lack of inputs/resources in general, and by the difficulty on the part of workers to create a new place for themselves. It has been found that despite the scenario, the uniqueness of the service allowed the production of caregiving practices whose maintenance relevance in the network should have a better evaluation.
Assuntos
Saúde Mental , Psicanálise , CriatividadeRESUMO
Resumo As críticas ao modelo manicomial fazem frente não só à existência do hospital psiquiátrico como também, no caso da desinstitucionalização, às estruturas e lugares de poder que corroboram a desimplicação na vida e na própria dignidade do sujeito. Nesse sentido, estudos sobre os desafios do cuidado em liberdade e a produção de conhecimento advinda desse cenário se fazem indeclináveis. O artigo esmiúça a utilização de narrativas em uma pesquisa nacional multicêntrica sobre a repercussão do Programa de Volta para Casa na vida daqueles que são beneficiários há cerca de 15 anos. A partir do marco teórico-prático escolhido, a desinstitucionalização, e do próprio perfil dos pesquisados - pessoas que sofreram anos de internação -, evidenciou-se o desafio do encontro entre beneficiário e pesquisador na produção das narrativas. Realçar as contradições no próprio percurso de pesquisa trouxe sínteses de análise e intervenções para a escrita e construção dos dados. Foi possível observar que a sustentação dessa relação traz o reconhecimento de si e de um outro na autoria da vida em composição com o tecido social e coloca a importância de um questionamento do lugar de poder do pesquisador concomitante à escolha de um instrumental metodológico dentro do campo.
Abstract Criticisms on the asylum model not only address the existence of the psychiatric hospital, but also, in the case of deinstitutionalization, the structures and places of power that corroborate the lack of life and dignity of the individual. Studies on the challenges of care in liberty and the production of knowledge that emerges from it become indeclinable. In this sense, the article explores the use of narratives in multicentric evaluative research on the repercussion of the De Volta para Casa Program (Back Home Program) in the lives of those who have been beneficiaries for 15 years. From the chosen theoretical-practical framework, the deinstitutionalization, and the profile of the respondents - people who suffered long years of hospitalization - the challenge of the meeting between the beneficiary and the researcher in the production of the narratives was evidenced. Highlighting the movement of contradictions in the course of research has brought to the data writing and construction syntheses of analysis and intervention. It was possible to observe the change of direction with the recognition of oneself and of another, in the authorship of life in relation to the social fabric and shows the importance of questioning the place of power of the researcher concomitant to the choice of a methodological instrumental within the field.