RESUMO
Durante a graduação, os acadêmicos de Psicologia realizam estágios obrigatórios nos serviços-escola das universidades, incluindo a modalidade de atendimento em psicoterapia individual. A relação transferencial estabelecida é atravessada por emoções advindas tanto do paciente quanto do psicoterapeuta, que podem contribuir para o estabelecimento da aliança terapêutica e também para o abandono do processo terapêutico. A transferência e a contratransferência têm sido abordadas em diversas publicações, mas percebe-se uma escassez de estudos sobre as emoções dos psicoterapeutas decorrentes da troca destes durante o processo. O presente estudo visa identificar as emoções vivenciadas por psicoterapeutas-aprendizes que assumiram casos de pacientes atendidos anteriormente por outros no mesmo serviço-escola. Realizou-se uma pesquisa qualitativa, por meio da construção de fato clínico psicanalítico, a partir da análise dos relatos pós-sessões dos atendimentos em psicoterapia psicanalítica de três pacientes, atendidos por três diferentes psicoterapeutas-aprendizes, os quais foram supervisionados pela mesma docente. As emoções vivenciadas e relatadas por esses psicoterapeutas decorrentes da troca de terapeutas, foram destacadas e analisadas como fatos clínicos psicanalíticos, baseados nos pressupostos de Winnicott e seus seguidores: preocupação em relação à aceitação e medo da rejeição.
As part of undergraduate studies, psychology students perform mandatory internships at school-clinics, which include individual psychotherapy. The established transferential relationship is affected by emotions from both the patient and the psychotherapist, which may contribute either to the establishment of the therapeutic alliance or the abandonment of the therapeutic process. Transference and countertransference have been addressed in several publications, but there is a lack of studies on the emotions of the psychotherapists resulting from their exchange during the process. This study aims to identify the emotions experienced by psychotherapists in training who took over cases previously attended by other undergraduate students in the same school-clinic. A qualitative research was carried out, through the construction of a psychoanalytic clinical fact, based on the analysis of the post-session reports of three patients in psychoanalytic psychotherapy, attended by three different therapists in training, who were supervised by the same teacher. The emotions experienced and related by the psychotherapists, as a result of the change of therapists, were highlighted and analyzed as the psychoanalytic clinical facts, based on the assumptions of Winnicott and his followers: the concern about being accepted and the fear of rejection.
RESUMO
O processo de troca de psicoterapeuta durante o tratamento em psicoterapia de orientação analítica, em geral, caracteriza-se por ser prejudicial e até mesmo traumático em boa parte dos casos. Porém, trata-se da realidade assistencial em hospitais universitários, em virtude da necessidade de rodízio de atendimentos pelos médicos residentes em formação psiquiátrica durante seu treinamento em psicoterapia e de psiquiatras realizando especialização em psicoterapia. Este trabalho visa revisar este tema pouco abordado na literatura através da proposição de possíveis cenários de como a troca de terapeuta pode ser encarada pelo paciente, ilustrando com algumas vinhetas clínicas. Concluímos que o tema precisa ser expandido para avaliar o melhor encaminhamento para esse contexto clínico, institucional e socioeconômico, visto não haver consenso teórico e técnico que norteiem a abordagem mais adequada e menos traumática para o paciente.(AU)
The process of changing psychotherapist during treatment in analytically oriented psychotherapy is often harmful and even traumatic in most cases. However, this is the reality of care in university hospitals, due to the need for rotation of care by medical residents in training during their qualification in psychotherapy and psychiatrists performing specialization in psychotherapy. This paper aims to review this little addressed theme in the literature by proposing possible scenarios of how the therapist change can be viewed by the patient, illustrating with some clinical vignettes. We conclude that the theme needs to be expanded to evaluate the best referral to this clinical, institutional and socioeconomic context, since there is no theoretical and technical consensus that guides the most appropriate and least traumatic approach for the patient.(AU)
El proceso de cambio de terapeuta durante el tratamiento en psicoterapia de orientación analítica, en general, se caracteriza por ser perjudicial e, incluso, traumático en gran parte de los casos. Sin embargo, se trata de la realidad asistencial en hospitales universitarios, en virtud de la necesidad de rotación en la atención por parte de los residentes en formación en psicoterapia y psiquiatras que realizan especialización en psicoterapia. Este trabajo busca revisar este tema poco analizado en la literatura a través de la proposición de posibles escenarios de cómo el cambio de terapeuta puede ser tomado por el paciente, ilustrando algunos casos clínicos. Concluimos que el asunto necesita ser ampliado para evaluar cuál sería el mejor camino para este contexto clínico, institucional y socioeconómico, una vez que no hay consenso teórico y técnico que orienten hacia un abordaje más adecuado y menos traumático para el paciente.(AU)