Anticoagulação oral por fibrilação atrial em nonagenários portadores de insuficiência cardíaca / Oral anticoagulation by atrial fibrillation in nonagenarians with heart failure

RESUMO

FUNDAMENTO O envelhecimento populacional é fenômeno global, e associa-se ao aumento da incidência de doenças cardiovasculares, impactando na qualidade e expectativa de vida. Insuficiência cardíaca (IC) e fibrilação atrial (FA) são exemplos cada vez mais frequentes destas entidades em nonagenários. Sabe-se que a anticoagulação efetiva reduz morbimortalidade, porém informações sobre seu uso nesta faixa etária são escassas. OBJETIVO: Avaliar o perfil de nonagenários portadores de IC e FA em uso de anticoagulação oral (ACO) em ambulatório de Cardiogeriatria de hospital terciário. MÉTODOS: Estudo retrospectivo, descritivo e observacional, utilizando revisão de prontuários de pacientes com idade igual ou superior a 90 anos, acompanhados de janeiro a dezembro de 2017 em ambulatório de Cardiogeriatria. As variáveis quantitativas foram apresentadas na forma de média, desvio padrão e tabela, com valores expressos em percentuais e/ou porcentagem de prevalência. RESULTADOS: Foram identificados 177 pacientes nonagenários, sendo cerca de 51% com IC, e, dentre estes, 30% com FA associada. Destes 30%, 65% eram homens e tinham idade média de 92,2 anos (DP ±2,63). Todos os idosos com IC e FA eram de alto risco para eventos cerebrais tromboembólicos, conforme escore CHA2DS2VASc. Quanto à terapia utilizada, 12 pacientes (42%) receberam anticoagulação oral enquanto 14 (50%) receberam apenas antiagregantes plaquetários e 2 (8%) nenhuma terapia específica, devido ao histórico de sangramento maior prévio. Dos pacientes anticoagulados, 16% receberam anticoagulantes orais diretos (DOACS) e 84% varfarina. O CHA2DS2VASc médio foi de 5,5 nos usuários de varfarina; 6 nos DOACS, 5,3 no grupo com antiagregantes e 6,3 no sem terapia. O escore HASBLED médio foi de 2,7 nos usuários de varfarina; 3 nos DOACS; 3,8 no grupo com antiagregantes e 4,3 no sem terapia. O RNI encontrava-se dentro da faixa terapêutica (2-3) em 69,1% das avaliações pelo método de Rosendall. CONCLUSÕES: A prevalência de FA em nonagenários com IC foi alta na população estudada e associou-se à alto risco de tromboembolismo. No entanto, o elevado risco de sangramento foi fator limitante ao uso dos anticoagulantes, apesar dos evidentes benefícios desta terapêutica. (AU)