Rentabilização das competências dos enfermeiros especialistas em enfermagem de saúde materna e obstétrica na comunidade - obstáculos, forças e satisfação profissional / Making the most of maternal health and obstetric nurse specialists' skills in the community - obstacles, strengths and professional satisfaction

RESUMO

Este relatório integra a unidade curricular de estágio com relatório em enfermagem de saúde materna e obstétrica, inserida no curso de mestrado de enfermagem de saúde materna e obstétrica. É constituído por duas componentes a componente clínica e componente de investigação em enfermagem. Na primeira aborda-se a caraterização dos contextos clínicos e reflete-se acerca do contributo das atividades desenvolvidas durante o estágio para o desenvolvimento das competências comuns do enfermeiro especialista e das competências específicas do enfermeiro especialista em enfermagem de saúde materna e obstétrica (EEESMO). Na segunda é apresentado um estudo, com o objetivo de desenvolver competências investigativas. O estudo desenvolvido surgiu das partilhas e reflexões realizadas durante os seminários ao longo dos estágios, onde verifiquei que as experiências das estudantes eram muito diversificadas nos diferentes contextos de estágio na comunidade. Ainda que sejam atribuídas muitas competências aos EEESMO na comunidade, constatei que estes enfrentam vários obstáculos para a sua concretização. Sabe-se que o investimento em profissionais dedicados à área de saúde materna e obstétrica melhora os resultados em saúde no mundo. Muitas das medidas para atingir os objetivos de desenvolvimento sustentável ocorrem ao nível da comunidade e os EEESMO tem aqui um papel importante na sua concretização. Apesar da existência de regulamentação específica para a prática clínica do EEESMO, há carência de estudos que mostrem a rentabilização das competências dos EEESMO em Portugal em contexto comunitário. Objetivos: identificar quais as áreas de competência rentabilizadas pelos EEESMO nos Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES) Baixo Mondego e Pinhal Litoral; analisar os obstáculos à rentabilização das competências do EEESMO nos ACESs do Baixo Mondego e Pinhal Litoral e as forças que potenciam a sua utilização; e analisar o que motiva e/ou desmotiva o desenvolvimento profissional dos EEESMO nos ACESs do Baixo Mondego e Pinhal Litoral e qual a sua satisfação profissional. Metodologia: estudo exploratório qualitativo. Participaram seis EEESMO com vínculo profissional aos ACES referidos. A colheita de dados ocorreu através da realização de uma entrevista semiestruturada, de 13/02/2023 a 05/04/2023. Os dados foram analisados segundo a análise de conteúdo de Bardin (2009). Este estudo teve parecer positivo da comissão de ética da UICISAE da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (Parecer nº P889_07_2022). Resultados: as competências rentabilizadas pelas EEESMO divergem consoante a unidade funcional em que estão inseridos. A falta de recursos físicos, materiais e humanos, o tipo de gestão de cuidados nas unidades de cuidados na comunidade e a organização dos cuidados de saúde, são obstáculos ao desenvolvimento das competências específicas do EEESMO. A valorização do seu trabalho, o trabalho de equipa, a autonomia e a resiliência são as forças ao desenvolvimento das suas competências. A satisfação profissional relaciona-se com os fatores que as motivam, que se relacionam com as forças ao desempenho das suas funções. Conclusão: a análise critica do estágio permitiu apresentar as atividades desenvolvidas e identificar as dificuldades e estratégias para o desenvolvimento de competências do EEESMO. Relativamente à componente de investigação verificamos que a maioria das competências especificas definidas pela Ordem dos Enfermeiros só são possíveis serem realizadas em contexto de comunidade, contudo ainda se verificam muitos obstáculos à sua rentabilização. Entendemos ser importante o investimento em EEESMO na comunidade de modo a garantir que todas as meninas e mulheres em idade fértil e no climatério tem acesso a cuidados especializados de proximidade. É fundamental mais investigação para construir evidencia científica que sustente a definição de políticas e a contratação de mais EEESMO para as unidades de saúde na comunidade, cumprindo-se as metas nacionais e internacionais definidas pela DGS, OMS e pela ONU.