Estudo clinico-epidemiologico da esquistossomose mansoni em Comercinho, Minas Gerais (1974-1981)

RESUMO

Foi realizado um estudo clínico-epidemiológico da esquistossomose na cidade de Comercinho em duas épocas, 1974 e 1981. Em 1981 foram feitos exames clínico e de fezes (método de KATO-KATZ) em, respectivamente, 80 e 90% da população da cidade (1474 habitantes). O índice de infecção pelo Schistosoma mansoni foi 70%, a média geométrica do número de ovos foi 334/gr. fezes e 7% dos pacientes infectados apresentavam esplenomegalia. O índice de infeçção, a contagem de ovos nas fezes e o índice de esplenomegalia foram significativamente mais altos nas zonas de residência 3 e 4 (situadas na periferia) do que nas zonas 1 e 2 (situadas nas áreas centrais da cidade). Esta diferença parece ter sido determinada pelas diferenças sociais existentes entre os habitantes do centro e da periferias de Comercinho, uma vez que nas zonas 3 e 4 predominavam os trabalhadores não qualificados como chefes de família (73 e 97%, respectivamente), só 10 e 3% das casas possuíam água encanada e menos de 13% das habitações eram de melhor qualidade. Foram estudados os sinais e sintomas apresentados pelos pacientes com diferentes contagens de ovos de S. mansoni nas fezes, verificando-se que as alterações do tamanho e da consistência do fígado estavam relacionadas à maior eliminação de ovos(maior ou igual 1000/grama) nos pacientes com 2 a 15 anos de idade, mas não nos mais velhos. A presença de sangue nas fezes, a presença de esplenomegalia, a presença de fígado palpável, o maior tamanho dos lobos direito e esquerdo do fígado e o aumento das consistência deste órgão foram significativamente mais frequentes nas crianças e/ou nos adultos que apresentavam ovos de S. mansoni nas fezes, quando comparados aos seus respectivos controle [...] No estudo de atributos individuais (caso-controle), a infecção pelo S. mansoni e as esplenomegalias estiveram claramente relacionadas à situação sócio-econômica e à "qualidade de vida" dos pacientes o índice de infecção e o índice de esplenomegalia foram significativamente mais altos nos membros de famílias cujos chefes eram trabalhadores não qualificados, nas pessoas que não possuíam água encanada no domícilio e naqueles que residiam em casas de pior qualidade. Ambos os indicadores alcançaram valores mais altos nos pacientes que haviam nascido na zona urbana de Comercinho, mostrando a importância deste espaço (urbano) para a reprodução da infecção e das formas graves da esquistossomose nos seus habitantes.[...]