A passagem do tempo e suas ressonâncias íntimas / The passage of time and its intimate resonance

RESUMO

Considerando a subjetividade implícita na apreensão da passagem do tempo, o presente estudo delineou-se a partir do interesse por algum esclarecimento sobre as experiências emocionais na etapa final da vida, quando o sujeito se depara mais diretamente com a própria limitação temporal. Sob uma perspectiva psicanalítica e através do método de Rorschach, foram entrevistados 180 idosos brasileiros com funcionamento cognitivo preservado e sem doenças incapacitantes. Às manifestações subjetivas dos sujeitos foram abordadas enquanto expressões das vivências de um "sujeito coletivo idoso", sendo que as manchas de tinta do Rorschach foram utilizadas como intermediação da relação transferencial estabelecida entre o sujeito coletivo e a pesquisadora. Contrariamente às representações preconceituosas e patologizantes da velhice, as configurações subjetivas que se destacaram revelam a flexibilidade do funcionamento lógico-emocional do idoso aqui estudado, o que favorece a elaboração da finitude de seus vínculos com a vida. A mulher idosa manifesta maiores níveis de ansiedade que o homem, porém as tendências masculinas indicam um retraimento introspectivo mais acentuado. Mas, tanto para homens como para mulheres, as vivências depressivas emergem num processo saudável de desenvolvimento emocional, possibilitando uma apreensão realística e aprimorada das relações internas e externas e preservando a criatividade e satisfação pela vida, apesar do difícil reconhecimento das próprias limitações temporais. As estereotipias e os processos depressivos patológicos não se apresentam enquanto especificidades do envelhecimento, devendo ser atribuídos à evolução de fragilidades estruturais da personalidade, associadas a fatores socioculturais. Os referenciais atualizados das variáveis do Rorschach para a faixa etária acima de 60 anos são apresentados, visando sua adequação na prática clínica com essa crescente população