Desenvolvimento e dificuldades da concepção localizacionista de funções mentais: uma análise a partir de Merleau-Ponty

RESUMO

Merleau-Ponty, especialmente nas obras Estrutura do Comportamento (1938) e Fenomenologia da Percepção (1945) concebia a Psicofisiologia do período, marcada pelos pressupostos da Teoria Clássica do Reflexo, como sendo reducionista, mecanicista e localizacionista. Nesse quadro, segundo ele, vigorava o método de análise real. Como proposta para a superação das dificuldades e limitações da Psicofisiologia, Merleau-Ponty propôs, sob influência dos estudos do Goldstein, da Gestalt e da fenomenologia de Husserl, a substituição da análise real por uma analítica transcendental, a qual estaria fundamentada na concepção de que o organismo seria um todo inseparável do mundo, dotado de intencionalidade e, consequentemente, irredutível às suas partes constituintes. A partir da crítica e da proposta de Merleau-Ponty, duas questões se colocam A crítica e a proposta de Merleau-Ponty são pertinentes em relação ao contexto de sua época? As Neurociências, face a seus avanços, superaram as críticas de Merleau-Ponty ou ainda se faz necessária uma analítica transcendental? A partir de uma análise genética, com ênfase histórica, observou-se a pertinência da crítica de Merleau-Ponty no contexto da época, especialmente quanto ao localizacionismo. Em relação ao desenvolvimento posterior das Neurociências, observou-se avanços, especialmente em relação à plasticidade e memória, independentemente da crítica de Merleau-Ponty, superando muitas das críticas propostas por aquele autor. Porém, algumas controvérsias ainda subsistem, principalmente em relação ao localizacionismo. Também a Filosofia, em especial a chamada Filosofia da Mente teve seu desenvolvimento próprio e apresenta dificuldades e controvérsias. Talvez seja nesse cenário ainda marcado por diferentes posturas que, as propostas de Merleau-Ponty se mostrem como alternativas a serem reexaminadas (AU)