RESUMEN
A importância da cosmologia na fundamentação das racionalidades médicas tem sido obscurecida, não apenas na medicina ocidental contemporânea, como, também, na própria medicina tradicional chinesa, onde sua presença é mais visível. Deslegitimada e até perseguida pelo Governo de Chang Kai-shek, no começo do Século XX, a medicina tradicional chinesa foi reabilitada pelo Governo da República Popular da China, a partir de 1949, porém sofrendo expurgos na sua cosmologia e em certas práticas por não se coadunarem com o pensamento científico pretendido. Deste processo surgiu a agora hegemânica escola "Traditional Chinese Medicine", na qual certos ensinamentos da medicina clássica chinesa têm sido omitidos por serem considerados "místicos', "metafísicos" ou "supersticiosos". Esta tese, de natureza teórico-conceitual, inspirada no enfoque antropológico, tem por objeto de estudo o discurso da cosmologia Daoísta da época da Dinastia HÀN ;,*,- (206 AC a 221 DC), por serem deste período as principais obras clássicas da medicina chinesa em uso até o presente. Foi nesta época que a medicina clássica chinesa e a cosmologia Daoísta WUXING -TL4í-, que lhe é subjacente, se desenvolveram e se consolidaram. Não pretende ser uma análise crítica do discurso Daoísta, mas, sim, uma contribuição para a sua reconstituição e explicitação no Ocidente. Objetiva comprender os sentidos e os significados de um conjunto de categorias integradas entre si, formuladas nas obras clássicas Daoístas sobre cosrnologia, fundadoras das teorias e das práticas da medicina chinesa. Concentra-se em certas categorias insuficientemente esciarecidas ou exploradas desta cosmologia, por sua relevância nas representações e nas práticas da medicina clássica chinesa e pelas suas prováveis repercussões sobre a medicina tradicional chinesa contemporânea. Um maior conhecimento e urna melhor compreensão do significado da cosmologia Daoísta e suas relações com as representações e as práticas da medicina clássica chinesa poderá aumentar a eficácia da medicina tradicional chinesa praticada no Brasil e contribuir para calar condições para urna maior reflexão teórica neste campo e um desenvolvimento de sua terapêutica.
Asunto(s)
Medicina Tradicional ChinaRESUMEN
Este artigo apresenta as primeiras reflexões, de natureza teórico conceitual, dentro de uma abordagem filosófica-médica-antropológica, sobre as relações entre as representações e as práticas da medicina clássica chinesa, resultantes do processo de elaboração do projeto de pesquisa para qualificação da tese de doutorado na área de Saúde Coletiva, do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, do Instituto de Medicina Social, dentro da linha de pesquisa "Racionalidades Médicas: estudo comparativo da Medicina Ociedental Moderna, Medicina Tradicional Chinesa, Medicina Ayurvédica e Homeopatia", em curso desde 1992. Justifica a escolha da cosmogonia e da medicina clássica chinesa da época áurea da civilização chinesa, a Dinastia Hàn (-206 a 220). Examina a crise atual da medicina chinesa, as limitações da escola Traditional Chinese Medicine e suas pretensões de integração com a biomedicina e de hegemonia mundial. Discute a necessidade de explicitação dos presupostos subjacentes às racionalidades médicas, frequentemente expressos em sua cosmogonia. Mostra a necessidade de se incorporar os ideogramas chineses na pesquisa sobre medicina chinesa, apresenta alguns problemas comuns na tradução de termos e evidencia normas consensuais que vêm sendo adotadas. Por fim, aborda a questão do pensamento emblemático chinês.